sábado, 30 de abril de 2011

O perigo de um leitura ideologizada da Bíblia



Vivemos uma época de um intenso confronto ideológico entre conservadorismo e liberalismo, tanto nos campos político quanto comportamentais. O avanço da agenda liberal no mundo ocidental, somados à eleição (nos EUA) de um presidente simpático a esta agenda e que, ainda por cima, se chama Barak, acendeu o sinal amarelo entre aqueles que defendem os valores tradicionais americanos, porém, também levou a ação a ultraconservadores e radicais de direita dos EUA que procuram se contrapor a esta onda liberal com artigos nos jornais, livros, programas de TV e rádio e muita, mas muita disseminação dos seus pontos de vista e críticas ácidas a quem pensa diferente via e-mail. Já teve de tudo, desde a defesa séria e bem fundamentada da restrição a pesquisas com células-tronco e a prática do aborto até a tentativas delirantes de se impetrar um impeachment do presidente dos EUA alegando que ele não teria nascido em solo americano. Ou que ele seria um muçulmano disfarçado. Ou que seria comunista. Ou ambos, sabe-se lá como.

Isto acontece de forma muito intensa nos EUA, mas também já ocorre no Brasil.

Porém, em alguns momentos esta disputa tem sido desnecessariamente levada para o campo teológico. Em certos pontos, realmente a agenda conservadora é próxima dos valores cristãos preconizados na Bíblia, mas muito do que é defendido pela direita americana (e brasileira também) não tem nada a haver com cristianismo. A Palavra de Deus não defende nem propõe qualquer sistema de político ou econômico pois ela é atemporal. A Bíblia não defende a ditadura, nem defende a democracia. Tampouco ela defende o capitalismo ou o comunismo. Ela é a revelação de Deus e de seu plano de salvação na pessoa de seu filho Jesus Cristo. Somente isto e já é muita coisa.

Porém, pessoas tanto à esquerda quanto a direita do espectro político tentam legitimar suas paixões ideológicas por meio da Bíblia, procurando ligar algum fato histórico nela descrito ou palavras de Jesus que possam ser usadas a seu favor.

Um dos textos que mais tem se destacado neste “sequestro” ideológico é o registrado no livro de Atos capítulo 2 versículos 44 e 45: a venda de propriedades para auxílio dos necessitados. Ao longo dos anos, estudiosos ligados a um pensamento mais à esquerda tentaram associar este fato narrado no livro de Atos a uma espécie de proto-socialismo, tentando legitimar aquele sistema político-econômico como mais humano que seu adversário, o capitalismo.

Porém, mais recentemente, vimos o contrário: artigos sendo publicados não necessariamente negando o fato narrado em si, mas acusando-o de ser o responsável pela ruína econômica da igreja cristã em Jerusalém e, devido a isto, a mesma teve de recorrer a doações das igrejas cristãs de outras localidades.

Na minha modesta opinião, este é um exemplo claro do perigo que é ler um texto bíblico sob as lentes distorcidas de uma ideologia, seja ela qual for.

Pesquisei na Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal e no Comentário Bíblico Beacon (ambos publicados pela CPAD, uma editora comprometida com a ortodoxia bíblica) os textos de Atos 11 e Romanos 15 e não encontrei nenhuma ligação da distribuição dos crentes ao comunismo nem tampouco aos efeitos da fome generalizada.

Vejamos o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal relativo ao texto de At 4.32-35:

“A Igreja Primitiva compartilhava bens e propriedades como resultado da união trazida pelo Espírito Santo, que trabalha na vida dos cristãos e por intermédio deles. Este modo de viver era diferente do comunismo porque: (1) o ato de compartilhar era voluntário; (2) não envolvia todas as propriedades privadas, apenas o necessário; e (3) não era um requisito da comunidade para tornar-se um membro da igreja. A União e a generosidade espiritual dos primeiros cristãos atraía outros.”

Ou seja, a venda de bens e propriedades não era algo obrigatório nem mesmo generalizado, ao contrário. Ao analisar o caso de Ananias e Safira, o Comentário Beacon diz:

"Enquanto a terra fosse guardada, sem ser vendida, não ficava para ti? (4) E, vendida, não estava em teu poder (exousia, "autoridade")? Estas duas perguntas confirmam o que já observamos em conexão com 2.44-45 e 4.32-35: uma comunidade universal de bens nunca foi praticada nem exigida pela Igreja Primitiva."

E como Beacon interpreta At 2.43-47?

"Este último parágrafo do capítulo parece, à primeira vista, descrever uma comunidade de bens na Igreja Primitiva em Jerusalém. Mas o texto grego dá uma impressão um pouco diferente daquele resultante da tradução em português. O tempo imperfeito, que significa uma ação contínua ou repetida, aparece nada menos que 8 vezes nestes 5 versículos (43-47). Em 44 e 45, o uso do imperfeito é excessivamente significativo para a exegese correta. Os crentes "tinham tudo em comum" (tradução literal de 44b); ou seja, deixavam todas as suas posses à disposição da igreja, para que fossem usadas conforme a necessidade.
O versículo 45 pode ser adequadamente parafraseado assim: "E de tempos em tempos eles vendiam as suas posses e os seus bens, e os repartiam entre todos, segundo as necessidades que cada um tinha de tempos em tempos". A implicação é a de que, quando surgiam as necessidades especiais, algum crente, ou alguns crentes, vendiam propriedades e tornavam os resultados da venda disponíveis para solucionar a emergência. A mesma coisa ainda acontece hoje entre os cristãos consagrados."

Ou seja, a prática cristã da venda de bens e propriedades era um ato de misericórdia fruto de alguma necessidade eventual, não uma prática sistemática e obrigatória. E quanto a afirmação de ser ela a responsável pela miséria da comunidade cristã em Jerusalém? Beacon reforça ao comentar At 4.32-37:

"Como observamos em 2.44-45, a indicação não é a de que toda propriedade privada de bens fosse abolida - como se faz em algumas comunidades religiosas. Mas a sinceridade da congregação dos primeiros cristãos era tal que se poderia dizer: Não havia entre eles necessitado algum (34). por quê? Porque quando surgisse uma necessidade, alguém venderia algum bem e traria o dinheiro para solucionar a emergência. Isto é o que o texto grego indica, pelo uso do imperfeito aqui como em 2.44-45. O lembrete do versículo 34 é, literalmente: "porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as (tempo presente - de tempos em tempos, conforme surgisse a necessidade), trazia o preço do que fora vendido". Isto não significa que todos vendiam as suas propriedades ao mesmo tempo e colocavam o dinheiro em um cofre comum. Ao contrário, cada crente conservava a sua propriedade como uma garantia, a ser usada de qualquer modo necessário pela igreja. essa é a verdadeira administração cristã."

Portanto, podemos empreender que as doações dos irmãos da igrejas irmãs para uma situação emergencial vivida pela igreja em Jerusalém é a repetição de um modelo já aplicado por esta igreja, e é repetido porque foi uma iniciativa bem-sucedida, e não o contrário.

Quanto à citação deste ato de doação, não há na passagem nem no restante do livro de Atos (escrito anos depois dos primeiros anos da Igreja Primitiva) qualquer conotação negativa ou consequência desastrosa de sua prática. Ao contrário, ele está dentro das descrições das atividades da igreja que fazia com que ela "caísse nas graças de todo o povo". Mais uma vez, recorrendo a Beacon, ele nomeia este tópico - At. 2.3 7-47 - de O Testemunho Eficaz - e a doação comunitária faz parte dele.

Na verdade, vemos duas situações distintas: em Atos 11.28, vemos uma doação preventiva da igreja de Antioquia. Por quê preventiva? Porque ela foi tirada para se antecipar a uma fome que ainda viria, pois foi avisada por meio de profecia. Tal fome ocorreu na Palestina entre 44 e 48 d. C. (Beacon). Já a coleta na Macedônia citada em Romanos ocorreu entre 53 e 59 d. C. (Beacon).

Caberia fazermos um estudo mais profundo da situação político-econômica da Palestina no período para compreendermos melhor o efeito da crise na região. É mais provável que a região como um todo tenha sentido mais os efeitos desta crise do que o resto do Império do que supor que a igreja cristã sofreu mais devido a um "proto-socialismo" por ela implantado. Não me espantaria se esta crise econômica, aliado aos impostos de Roma tivessem desembocado na revolta Judaica, mas isto, é pura especulação minha.
Lembremos que a Igreja em Jerusalém era, provavelmente, a mais numerosa de todas, visto que, no primeiro dia 3000 almas se converteram e pouco depois já contava com mais de 5000 homens, fora mulheres e crianças. Com a perseguição de Saulo, aqueles poucos que tinham condições ou posses fugiram, mas não há dúvida que os mais pobres não teriam essa liberdade de locomoção. Se os apóstolos continuaram nos passos de seu Mestre, a maioria esmagadora dos membros desta numerosa igreja seria de pessoas marginalizadas pelo judaísmo oficial: pobres, doentes, pecadores arrependidos, etc. Pessoas de poucos recursos e portanto, mais indefesas a períodos de crise econômica e fome. Muita gente, poucos recursos e fome. Não é uma equação fácil de se resolver. A venda de um ou outro terreno de um irmão mais afortunado seria um paliativo temporário mas, sem dúvida, a colaboração das demais igrejas seria fundamental para a igreja-mãe.

Resumido: se, segundo Beacon, já é um erro associar a generosidade dos cristãos de Jerusalém com socialismo, creio que um erro ainda maior seria considerar esta generosidade - elogiada em Atos, portanto pela própria Palavra de Deus - como um erro administrativo que teria levado a igreja a passar por necessidades - perdão pelo trocadilho - desnecessariamente.

Tenhamos cuidado com nossas leituras e interpretações do texto bíblico a fim de não cairmos em armadilhas mentais criadas por outros ou por nós mesmos. Se não corremos o risco de tentarmos usar a Palavra de Deus para defender apaixonadamente ideologias puramente humanas, como é o caso das filosofias políticas e econômicas que norteiam e definem o mundo a nossa volta, mas do qual, espiritualmente, não fazemos parte.


Bibliografia: Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, 2008, CPAD
Comentário Bíblico Beacon, 1a. Edição, 2006, CPAD

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma pequena fábula sobre o amor de Deus

Na Páscoa celebramos o amor de Deus por nós na pessoa, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Porém, para muitas pessoas é difícil entender a dimensão do gesto de Deus, a intensidade de seu amor por cada um de nós. Este vídeo nos ajuda a entender um pouco do que Ele teve de abrir mão para nos dar a chance de sermos salvos de nós mesmos, de uma vida vazia de significado, mas cheia de pecados.


O sacrifício de Jesus nos deu uma segunda chance. Não a desperdicemos.
 


domingo, 17 de abril de 2011

Infância roubada


Não teria como ignorar o trágico dia que todos nós vivemos com o assassinato a sangue frio de 12 crianças em uma escola pública no bairro de Realengo, Rio de Janeiro.
Todos ainda buscam respostas para o que não tem resposta: o que leva alguém a cometer tamanha covardia, tamanha atrocidade?
No jornal O Globo li uma entrevista da especialista em perfis criminosos Ilana Casoy. Ela deixa claro que nenhuma das informações colidas até agora sobre o assassino são determinantes para esta explosão de fúria. Nem o suposto bulling sofrido, o temperamento recluso, suposta religiosidade ou problemas mentais de sua mãe, por si só explicam seu crime.
Mas este fato isolado me chamou a atenção para uma realidade maior: apesar deste ter sido o mais brutal ataque contra a infância em nosso país, não foi, de modo algum, o primeiro nem tampouco o mais cruel:

1) Neste mesmo mês, um casal em Curitiba tentou abandonar na maternidade uma de suas filhas trigêmeas nascidas mediante um tratamento de fertilização in vitro. Por algum motivo ainda desconhecido, o casal de classe média alta, estava disposto a ter dois filhos, mas não três. Segundo notícia publicada no O Globo de 9/04/2011, eles haviam autorizado a adoção delas ainda no quarto mês de gravidez e tentado o aborto de uma delas no exterior.

2) O jornal extra noticiou em 07/04/2011: “A venda de um sutiã da Disney tem gerado muita polêmica. O motivo: a mercadoria é destinada a crianças de quatro a seis anos e tem enchimento. Consumidores de São Paulo, onde a rede Pernambucanas tem lojas, criticam a comercialização do produto. No Rio, a peça já foi vendida na Leader.
Nós nos perguntamos se uma criança dessa idade precisa usar um sutiã, ainda mais com enchimento. Chamamos isso de "adultização" da infância — disse a advogada Isabela Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, lembrando ainda que o produto é licenciado pela Disney, uma marca de confiança, credibilidade e qualidade.”

3) A dona de casa Silvânia Pires de Souza, 21 anos, está presa na cadeia de Ibiá, no Alto Paranaíba (MG), sob suspeita de ter atirado a filha de 5 meses no rio Misericórdia, na tarde desta terça-feira dia 8/03/2011.

4) em 30/07/2010, a BBC fez uma reportagem sobre prostituição infantil no Brasil que mostrou que crianças de 13, 12 e até 11 anos estão suprindo uma crescente demanda de turistas estrangeiros que viajam ao Brasil atrás de sexo. A cada semana, operadores de turismo despejam nas cidades brasileiras milhares de homens europeus que chegam em voos fretados especialmente ao Nordeste em busca de sexo barato, incentivando assim a prostituição.

5) Em 29/04/2010 o Estado de São Paulo noticiou que uma procuradora de Justiça aposentada foi indiciada pelo crime de tortura qualificada pelas agressões a uma criança de 2 anos. A menina estava sob sua guarda provisória em processo de adoção. Segundo depoimento do conselheiro tutelar, a criança estava no chão do terraço onde fica o cachorro da procuradora aposentada. De lá, a menina foi levada para um hospital. Com os olhos inchados, ela precisou passar três dias internada.

6) Em 7/3/2010 – A Mini Lady Gaga, uma criança de apenas 8 anos, dá show ao vivo no palco do programa Domingo Legal exibido no SBT. Ela foi introduzida ao palco por um homem vestido igual a cantora americana Beioncé, chamado no programa Bananaoncé”. Lady Gaga é uma polêmica cantora que faz inúmeras referências sexuais, inclusive sadomasoquistas, sempre com um visual bizarro e doentio em seus clipes.

O que está acontecendo?
Vivemos em uma sociedade decadente, em acelerado processo de decomposição. Falta de autoridade de pais e professores, grande liberdade de ação e estímulo ao consumo desenfreado para adolescentes e jovens além de total incentivo dos meios de comunicação para que cada um haja como melhor lhe convier, sem se preocupar com o amanhã, muito menos com seu próximo, levou a criação de uma geração de pessoas egoístas e agressivas, voltadas unicamente para o seu prazer, para a sua satisfação pessoal.
Este é o resultado de um mantra subliminarmente repetido: “não me arrependo de nada”, “viva o momento”, “carpe diem”, “você não manda em mim, a vida é minha”.
Em uma sociedade pautada por estes valores, o prazer pessoal é uma obrigação e qualquer responsabilidade com o próximo é um obstáculo a ser eliminado.
Mas ainda há um último tabu que ainda resta a cair: nossas crianças. Quando pensamos em infância, imediatamente nos vêm à mente palavras como inocência, alegria, necessidade de proteção e futuro. Mas, como podemos ver pelos exemplos acima, forças malignas tem tido um intenso trabalho para destruir o último bastião de humanidade que ainda resta em nosso país. Diariamente, crianças inocentes de sido adultizadas, agredidas, violentadas, prostituídas e assassinadas em nosso país. Diariamente.
Nesta semana, minha filha de 6 anos chegou em casa cantando a música Alejandro, de Lady Gaga. Me surpreendi com o fato, visto que em casa minha filha não houve músicas adultas, somente músicas infantis e nem eu nem minha esposa ouvimos este tipo de música. Embora eu já conhecesse a canção devido a matérias na TV, perguntei a ela que música era aquela. Ela respondeu: “Lady Gaga”. Perguntei então onde ela havia aprendido. A resposta me chocou: “na escola. A Tia canta ela todo o dia”.
Como podemos esperar ter algum futuro se tratamos assim o nosso futuro? Crianças são adestradas a serem fúteis e consumistas como são os adolescentes os quais por sua vez, mimetizam o comportamento dos jovens e adultos. Pais sem autoridade ou massa crítica, fazem todas as suas vontades para tentar subornar alguns minutos de paz. E assim gira a roda do consumo.
Não creio que haja alguma sociedade secreta ou teoria da conspiração que seja responsável pela prática sistemática de tamanha insanidade contra nossas crianças. Os casos que relatei acima não possuem correlação entre si, mas são todos frutos de um mesmo mal.
Sua origem é mais profunda, invisível, demoníaca. Está aberta uma temporada de caça contra nossos filhos. Todos os meios serão utilizados para roubar-lhes a infância ou mesmo a vida. Isto ocorre pela nossa inação como igreja, família e sociedade. Se não nos capacitarmos espiritualmente, e não pregarmos o bem e denunciarmos o mal, se não pagarmos o preço de sermos intransigentes na defesa dos valores cristãos, veremos a cada dia se cumprir dentro de nossas próprias casas o texto de II Tim. 3.1-5: 

Sabe, porém, isto; que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te”.

sábado, 2 de abril de 2011

Dica de Vídeo


A música brasileira é mundialmente famosa por sua qualidade. Imagine se somássemos o melhor da MPB com a mensagem do Evangelho. Não precisa mais imaginar, basta ouvir:
 


Expresso Luz - DVD Ao Vivo - Caminho de Jerusalém