quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Maconha: uma questão de saúde pública. Mais do que você imagina.


A maconha não faz isso. Mas a maioria das pessoas que chegou neste estágio começou com ela.

Ninguém em sã consciência nega que a questão das drogas é um grave problema de difícil solução. Quando pensamos em drogas, nos vem à mente diversos problemas originados de seu consumo tais como: dependência química, alteração de personalidade, crises de abstinência, perda do senso de realidade, agressividade, e criminalidade.

Mas apesar disto, há quem defenda a descriminalização ou mesmo a legalização de seu consumo, ao menos daquela que consideram a menos nociva delas: a maconha.

Como já afirmei em meu post Discussão ou imposição?, o discurso dos defensores desta proposta dá a entender que a sociedade brasileira tem se recusado a pensar em soluções alternativas para o caos que as drogas geram ao afirmarem que: “chegou a hora de discutir a legalização das drogas” ou “temos de deixar de hipocrisia e discutir a descriminalização das drogas”.

Há um eufemismo aí. Quando falam em “discutir a questão” não estão querendo falar em “debater a questão”, mas sim em “Vamos discutir como e em que ritmo vamos implantar a legalização das drogas”.

Mas vamos discutir a questão. De verdade. Sem eufemismos.

Um argumento muito usado pelos defensores da descriminalização do consumo de drogas é que esta “deve ser abordada como uma questão de saúde pública e não criminal”, que não se deve tratar como criminoso alguém que está doente.

Na verdade, a coisa começa como um crime – compra, posse e consumo de drogas –, que progride para uma doença – a dependência química decorrente deste consumo. Mas esqueçamos por enquanto a questão criminal e vamos tratar da questão de saúde. E se o assunto é esse, nada melhor do que ouvir um profissional da saúde – um médico, o doutor Joaquim Melo:

A teoria de substituir a criminalização das drogas por uma abordagem de saúde pública é frágil na prática. Não é realista pretender trocar uma pela outra, pois elas estão relacionadas e tem de ser complementares e não excludentes.
Pode ser que a descriminalização melhore as estatísticas de segurança, mas inevitavelmente vai multiplicar as dificuldades na saúde. Com o agravante de que essa abordagem deixa de combater a origem para remediar as causas, o que, em qualquer circunstância, prejudica os resultados e aumenta os custos.”
Fonte: Prudência com a maconha. Artigo publicado no jornal O Globo de 24/08/2013

Ele deve saber do que diz, afinal, o dr. Melo é presidente da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas. Neste artigo ele questiona a eficácia e mesmo a lógica de liberar o consumo de drogas leves como a maconha, quando governo e sociedade fazem um grande esforço no sentido contrário, na restrição cada vez maior ao consumo de cigarro e bebidas alcoólicas – com bons resultados.

Mas o doutor Melo também citou que a descriminalização fatalmente levaria a uma multiplicação de dificuldades na saúde. Por quê? A resposta vem da Inglaterra:

Especialistas alertam que o público perigosamente subestima os riscos de saúde ligados a fumar maconha.
A Fundação Britânica do Pulmão (BLF, na sigla em inglês) realizou um levantamento com mil adultos e constatou que um terço erroneamente acredita que a cannabis não prejudica a saúde.
E 88% pensavam incorretamente que cigarros de tabaco seriam mais prejudiciais do que os de maconha -- quando um cigarro de maconha traz os mesmos riscos de um maço de cigarros.
A BLF afirma quer a falta de consciência é "alarmante".
Um novo relatório do BLF diz que há ligações científicas entre fumar maconha e a ocorrência de tuberculose, bronquite aguda e câncer de pulmão.
O uso de cannabis também tem sido associado ao aumento da possibilidade de o usuário desenvolver problemas de saúde mental, como a esquizofrenia.
Parte da razão para isso, dizem os especialistas, é que as pessoas, ao fumar maconha, fazem inalações mais profundas e mantêm a fumaça por mais tempo do que quando fumam cigarros de tabaco.
Isso significa que alguém fumando um cigarro de maconha traga quatro vezes mais alcatrão do que com um cigarro de tabaco, e cinco vezes mais monóxido de carbono, diz a BLF.”

Segundo o dr. Melo, países que adotaram a descriminalização viram o consumo das drogas crescerem e com usuários que começavam a consumi-las cada vez mais cedo. Mais ainda: ele afirma que há estudos que apontam que parte destes novos usuários deve evoluir para o consumo de outras drogas, como o crack.
Ou seja, a solução proposta não vai resolver o problema, apenas mascarar sua faceta criminosa, mesmo que isto leve a um aumento exponencial de consumidores e – por consequência – dependentes que sobrecarregarão ainda mais o já combalido sistema de saúde do país.
A solução apresentada é muito conveniente. Se deixa de ser crime, pode ser consumido. Se for consumido por uma decisão livre do cidadão é um direito dele. Mas se o consumo gerar tudo o que já foi exposto acima: dependência, tuberculoze, câncer, esquizofrenia ou mesmo levar o indivíduo à cocaína e ao crack, aí a responsabilidade é do Estado que tem o dever de cuidar dele.
E aí vivemos o paraíso hedonista de nossos formadores de opinião: o indivíduo nunca é responsabilizado por seus atos e escolhas, ao contrário, é tratado como vítima do destino. O vilão é o governo que não tem hospitais e clínicas de recuperação suficientes, ou políticas públicas suficientes ou campanhas educativas suficientes.
Na verdade, já se está fazendo isso. Ao invés de se fazerem campanhas alertando para os perigos do consumo de drogas, fazem-se campanhas para vitimizar o usuário de drogas:

A carioca X-Tudo Comunicação Completa assina campanha de apoio ao projeto de lei pela descriminalização do usuário de drogas, que irá tramitar no Congresso.
Criada para a CBDD (Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia), com apoio da ONG carioca Viva Rio, a comunicação discute o tema a partir do bordão : “É justo isso?”.
A meta é reunir 1,3 milhão de assinaturas e apresentá-las no Congresso, em 2013.

Luana Piovani, Luiz Melo, Isabel Fillardis, Felipe Camargo, Jonathan Azevedo e Regina Sampaio, entre outros, protagonizam a campanha, e interpretam casos reais que aconteceram por causa de legislação que não difere o usuário do traficante. Também há a participação de dois defensores públicos, Rodrigo Pacheco e Daniel Nicory.
A comunicação conta com filmes para TV, anúncios para revista e jornal, spots para rádio e peças para internet.”

Ou seja: uma pessoa conscientemente decidiu comprar e consumir drogas, sabendo que isto é um crime. Algumas dessas pessoas compraram em grande quantidade seja para fazer um estoque próprio, seja para rachar com outros usuários, mas foram presas, julgadas e, algumas delas, condenadas. É justo isso? Sim, é justo, pois foi a escolha delas. Compraram e consumiram drogas sabendo de seus riscos. Não há porque tratá-las como vítimas, a não ser de si próprias.

Não é interessante? Se a campanha é contra o consumo não aparece nenhuma celebridade. Mas se a campanha é para legalizar ou coitadinhizar o usuário, aí não faltam nomes famosos. Isto acontece porque em nossos formadores de opinião glamurizam o alternativo, o marginal o outsider e tratam o correto e honesto como careta, conservador, retrógrado e burguês. O resultado é esta inversão de valores que vemos diariamente em nossa sociedade.

Mas deixemos de lado minha opiniões e voltemos a questões de saúde. Saúde mental. Qual a opinião do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Unifesp a respeito do impacto do consumo de maconha na mente de nossos jovens e adolescentes?

"Há quase 500 mil adolescentes usando maconha regularmente. Isso dá uma visão do tamanho do problema (...) e há um impacto do ponto de vista de saúde pública, desemprego e suicídio", explica.
Laranjeiras comentou ainda que, desde 2006, com a mudança da lei para despenalizar o uso de drogas, é possível que tenha ocorrido um aumento no consumo de maconha. Para ele, houve uma "frouxidão legislativa", que alterou a figura do usuário e impediu a pena de prisão com novas sanções alternativas.”

O professor Laranjeira tem base para fazer esta afirmação. Ele é um dos organizadores do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). E ele também aponta as consequências neurológicas que esta frouxidão tem trazido para outros países:

"Nos EUA, a maior busca de dependentes químicos por tratamento hoje é de usuários de maconha. Dados da Nova Zelândia apontam que tem crescido o número de pessoas com transtornos psicóticos e esquizofrenia em decorrência do uso da maconha. Nenhuma outra droga causa esquizofrenia, e essa é a pior doença da psiquiatria. Quem vai cuidar dos 10% dos usuários expostos a esse risco? Quem é a favor da legalização deveria responder isso", diz Laranjeira.”
Legalizar o consumo significa facilitar o acesso. Sua consequência direta será a ampliação de usuários. Ainda mais em uma sociedade em que o consumo de maconha é retratado como algo libertário, descolado e moderno enquanto a abstenção é visto como algo conservador e careta. Ou seja, do ponto de vista imagético, é quase irresistível para um adolescente ou jovem resistir a um convite para “dar um tapinha”. Os mesmos que defendem a sua descriminalização são aqueles que constroem uma imagem sedutora de seu consumo. Se hoje temos no Brasil, segundo os estudos do Lenad, 3% da população adulta tendo consumido drogas no último ano, com a legalização poderemos chegar em pouco tempo ao nível de consumo dos EUA: 10% da população adulta. E o nosso já combalido sistema de saúde é que terá de arcar com isso. A "questão de saúde pública" se tornaria uma epidemia.
Os doutores Melo e Laranjeiras concordam que a descriminalização não ajuda em nada e vão além: parte da resposta está é no endurecimento no tratamento da questão – o que não significa absolutamente colocar usuário na cadeia:
Os países com menor consumo de maconha, como Suécia e Japão, têm mais rigor e restrições. A solução não é colocar os usuários na prisão, mas nesses lugares há uma certa intolerância com o consumo. Ou vamos por esse caminho ou liberamos e aumentamos o uso. Será que a minoria vai determinar e pautar o que a gente quer como sociedade?"

As políticas relativas às drogas lícitas, aliás, oferecem mais informações. Está claro o sucesso de medidas mais rígidas em relação ao cigarro, com diminuição expressiva no número de fumantes. Da mesma maneira, a Lei Seca apresentou inegáveis resultados positivos. Em ambos os casos, o raciocínio é o inverso das propostas sobre a maconha”.
Fonte: Prudência com a maconha. Artigo publicado no jornal O Globo de 24/08/2013

Sabemos que alguma pessoas tem uma maior predisposição à dependência química do que outras. Assim como há pessoas que consomem maconha sem se viciarem há também pessoas que não apenas criam dependência como aprofundam sua dependência consumindo outras drogas mais pesadas.

Ao descriminalizar o consumo de maconha para que uma parcela ínfima de pessoas descoladas possam ter o seu barato sem serem importunadas, corremos um risco real: o de facilitar o acesso a esta droga a um número muito maior de pessoas que carregam dentro de si, sem saberem, a predisposição genética à dependência química e a todas as desgraças que vem com ela. Aproveitando o tema da campanha pró-descriminalização, deixo uma pergunta no ar: é justo isso?

A saída não está na descriminalização do consumo de drogas. Está no abandono voluntário de seu consumo daqueles que fazem uso “recreativo” delas. As Sagradas Escrituras já mostravam o caminho:

Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação”. Rm 15.1

Para aqueles que se sentem injustiçados por terem de, pela força da lei, abrir mão de um prazer para que um desconhecido de organismo fraco não venha a se tornar um dependente químico, sugiro que veja isto por um outro ângulo. Não abra mão apenas por que a lei exige. Abra mão por que você se importa. Porque você é solidário. Abra mão porque a vida de um desconhecido é mais importante do que os minutos de relaxamento provocado por um vapor barato. Isto seria um grande ato de amor pela vida.