quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Santander - um case sobre Liberdade de Expressão e Opinião Pública



Percebo uma clara divisão entre aqueles que acham que existem limites para a produção artística e aqueles que pensam exatamente o contrário.

Eu vejo a Arte como uma forma de expressão, uma ferramenta de comunicação. Seja ela direta ou metafórica, sua estética está a serviço de uma mensagem e não há mensagem que não seja fruto de uma visão de mundo, de uma ideologia, ainda que a intenção do artista com sua obra não tenha um caráter político-partidário, ainda que vise o puro entretenimento, sua produção artística será fruto de suas aspirações, visões conceitos e – por que não – preconceitos coletados ao longo de sua existência.

Isto posto, uma produção artística ao ser exposta ao público, tem de estar aberta tanto ao aplauso quanto à vaia, tanto ao sucesso de público quanto ao ostracismo, tanto à geração de reflexão quanto à incompreensão.
Ou seja, uma obra de arte não está imune à crítica, nem mesmo a execração pública se esta não for considerada boa o suficiente, não for compreendida ou se sua intenção for chocar o distinto público.

Esta postura de nossos "formadores de opinião" de que não temos o direito de externar a nossa contrariedade ou indignação porque não temos bagagem cultural para apreciar a arte e ao fazermos expomos nossa ignorância não passa de elitismo preconceituoso. Se você gosta de uma manifestação artística, você não apenas aplaude como recomenda. Se você não gosta, você não aplaude, vaia e não recomenda. Se, porém, a manifestação artística de agride, você devolve a agressão na forma de protesto e boicote. Foi exatamente isto que aconteceu com a exposição patrocinada pelo Santander Cultural. Uma sociedade, por mais plural que seja, é feita de valores, crenças e aspirações comuns, por isso, cabe esclarecer que existem limites que não devem ser ultrapassados, nem mesmo pela arte, ainda mais se esta se propõe a ter uma função conscientizadora a respeito de alguma causa.

Estamos falando de ilustrações de Nossa Senhora com um bebê chimpanzé no colo com uma típica auréola de santidade sobre sua cabeça; de hóstias com nomes de órgãos humanos e termos chulos escritos nela, de uma imagem de Cristo com múltiplos braços segurando alguns objetos de cunho sexual e de uma quadro com diversos personagens praticando sexo de múltiplas formas, inclusive com um animal.

Aqueles que defendem a liberdade artística e de expressão devem entender que esta regra vale para os dois lados, tanto o artista quanto o público tem igual direito de se expressar. E foi exatamente isto que aconteceu neste caso: o banco promotor do evento teve a liberdade artística de escolher as peças que queria expor e povo teve a liberdade de expressão de criticar algumas peças desta mostra. Quem encerrou a exposição não foi o poder público mas o próprio banco que, em uma nota, reconheceu que algumas peças expostas, de fato, feriam crenças e sensibilidades e que isto não representava um ato de respeito a diversidade. Afinal, uma enorme parcela da população foi agredida em suas crenças e valores. Ou o propalado conceito de respeito a diversidade só vale para alguns?

Não existe liberdade plena de expressão. Tal qual as vias urbanas onde faixas de pedestres e sinais de trânsito organizam o direito de ir e vir de todos, os fluxos de informação são regidos por leis para assegurar que calúnias, difamações, pirataria, conteúdo inadequado para certas faixas etárias e ideologias racistas não sejam propagadas impunemente, mesmo que em formato de expressão artística.
Há limites para a Arte? E se a exposição ao invés de ilustração de zoofilia fosse uma foto de um homem abusando de um animal, seria também arte? E se, ao invés de uma foto fosse uma performance ao vivo, seria também arte? E se, a temática fosse arte nazista, exaltando uma suposta raça pura e ridicularizando judeus, negros e homossexuais, será que os atuais defensores da liberdade de expressão também apoiariam esta exposição ou se juntariam aos demais a pregar o seu boicote? Sim, há limites para a Arte, como há limites para tudo nesta vida.

Claramente o conteúdo desta mostra não era adequado para crianças, mas a organização da mostra não pensa assim. Segundo o jornal Gazeta do Povo:

Uma das medidas destinadas ao público estudantil em relação à Queermuseu foi a impressão de folders explicativos, de 24 páginas, contendo textos sobre os quadros. A tiragem prevista foi de 15 mil exemplares. Também estavam previstas impressões de mil unidades de um material chamado de Caderno do Professor, destinado a docentes que acompanhassem os estudantes no centro cultural.”

Qual o objetivo de expor crianças a este tipo de conteúdo? Conscientização, dirão seus defensores. Doutrinação, dirão seus detratores. Esta é uma questão semântica: se concordamos com a causa, chamamos de conscientização, se não, chamamos de doutrinação.
Para mim, claramente era uma ferramenta de doutrinação ideológica. Mas o respeitável público disse não. Respeitemos a vontade do público.

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. Filipenses 4:8

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