Percebo
uma clara divisão entre aqueles que acham que existem limites para a
produção artística e aqueles que pensam exatamente o contrário.
Eu
vejo a Arte como uma forma de expressão, uma ferramenta de
comunicação. Seja ela direta ou metafórica, sua estética está a
serviço de uma mensagem e não há mensagem que não seja fruto de
uma visão de mundo, de uma ideologia, ainda que a intenção do
artista com sua obra não tenha um caráter político-partidário,
ainda que vise o puro entretenimento, sua produção artística será
fruto de suas aspirações, visões conceitos e – por que não –
preconceitos coletados ao longo de sua existência.
Isto
posto, uma produção artística ao ser exposta ao público, tem de
estar aberta tanto ao aplauso quanto à vaia, tanto ao sucesso de
público quanto ao ostracismo, tanto à geração de reflexão quanto
à incompreensão.
Ou
seja, uma obra de arte não está imune à crítica, nem mesmo a
execração pública se esta não for considerada boa o suficiente,
não for compreendida ou se sua intenção for chocar o distinto
público.
Esta
postura de nossos "formadores de opinião" de que não
temos o direito de externar a nossa contrariedade ou indignação
porque não temos bagagem cultural para apreciar a arte e ao fazermos
expomos nossa ignorância não passa de elitismo preconceituoso. Se
você gosta de uma manifestação artística, você não apenas
aplaude como recomenda. Se você não gosta, você não aplaude, vaia
e não recomenda. Se, porém, a manifestação artística de agride,
você devolve a agressão na forma de protesto e boicote. Foi
exatamente isto que aconteceu com a exposição patrocinada pelo
Santander Cultural. Uma sociedade, por mais plural que seja, é feita
de valores, crenças e aspirações comuns, por isso, cabe esclarecer
que existem limites que não devem ser ultrapassados, nem mesmo pela
arte, ainda mais se esta se propõe a ter uma função
conscientizadora a respeito de alguma causa.
Estamos
falando de ilustrações de Nossa Senhora com um bebê chimpanzé no
colo com uma típica auréola de santidade sobre sua cabeça; de
hóstias com nomes de órgãos humanos e termos chulos escritos nela,
de uma imagem de Cristo com múltiplos braços segurando alguns
objetos de cunho sexual e de uma quadro com diversos personagens
praticando sexo de múltiplas formas, inclusive com um animal.
Aqueles
que defendem a liberdade artística e de expressão devem entender
que esta regra vale para os dois lados, tanto o artista quanto o
público tem igual direito de se expressar. E foi exatamente isto que
aconteceu neste caso: o banco promotor do evento teve a liberdade
artística de escolher as peças que queria expor e povo teve a
liberdade de expressão de criticar algumas peças desta mostra. Quem
encerrou a exposição não foi o poder público mas o próprio banco
que, em uma nota, reconheceu que algumas peças expostas, de fato,
feriam crenças e sensibilidades e que isto não representava um ato
de respeito a diversidade. Afinal, uma enorme parcela da população
foi agredida em suas crenças e valores. Ou o propalado conceito de
respeito a diversidade só vale para alguns?
Há limites para a Arte? E se a exposição ao invés de ilustração de zoofilia fosse uma foto de um homem abusando de um animal, seria também arte? E se, ao invés de uma foto fosse uma performance ao vivo, seria também arte? E se, a temática fosse arte nazista, exaltando uma suposta raça pura e ridicularizando judeus, negros e homossexuais, será que os atuais defensores da liberdade de expressão também apoiariam esta exposição ou se juntariam aos demais a pregar o seu boicote? Sim, há limites para a Arte, como há limites para tudo nesta vida.
Claramente
o conteúdo desta mostra não era adequado para crianças, mas a
organização da mostra não pensa assim.
Segundo
o jornal Gazeta do Povo:
“Uma
das medidas destinadas ao público estudantil em relação à
Queermuseu foi a impressão de folders explicativos, de 24
páginas, contendo textos sobre os quadros. A tiragem prevista foi de
15 mil exemplares. Também estavam previstas impressões de mil
unidades de um material chamado de Caderno do Professor, destinado a
docentes que acompanhassem os estudantes no centro cultural.”
Qual
o objetivo de expor crianças a este tipo de conteúdo?
Conscientização, dirão seus defensores. Doutrinação, dirão seus
detratores. Esta é uma questão semântica:
se concordamos com a causa, chamamos de conscientização, se não,
chamamos de doutrinação.
Para
mim, claramente era uma ferramenta de doutrinação ideológica. Mas
o respeitável público disse não. Respeitemos a vontade do público.
Quanto
ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo
o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai. Filipenses 4:8
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