sábado, 9 de junho de 2012

Discussão ou imposição?


"Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto ."


Li recentemente no site de notícias Terra uma interessante entrevista da deputada federal Luíza Erundina sobre suas dificuldades internas e externas para concorrer e ganhar as eleições para prefeitura de São Paulo. No final da entrevista entretanto, falando de sua linha de atuação como deputada ela afirma:

O Brasil é uma nação extremamente atrasada nessa discussão porque deixa que a religião influencie nas políticas de um Estado laico. Entendo o direito dos religiosos de não permitir práticas como o aborto aos seus membros, mas estender isso a toda população é um erro grave. (...) Se a mulher tivesse um papel maior nas esferas de poder, tenho certeza de que não seria tão difícil discutir temas como esse, que envolvem direitos individuais, civis, e até direitos humanos”

Neste comentário ela repete um ponto de vista que tem se tornado clichê entre os defensores do aborto e da legalização do consumo de drogas: a discussão.

Alunos da USP que organizaram a Semana de Barba, Bigode e Baseado disseram nesta sexta-feira que não imaginavam a repercussão do evento, marcado para ocorrer entre segunda e sexta-feira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Cidade Universitária. “O evento incita muito mais a discussão do que o uso de qualquer droga”, diz Caetano Patta, de 23 anos, um dos fundadores da Frente Uspiana de Mobilização Antiproibicionista (Fuma), organizadora da semana.”
link: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/04/16/universidade-e-lugar-para-discutir-drogas-sem-preconceito-diz-organizador-de-evento-na-usp/

Mas se analisarmos o contexto destas e de diversas outras frases semelhantes, eles não querem discutir a questão. Querem a imposição da aceitação.

A questão do aborto/das drogas precisa ser discutido sem hipocrisia. Esta frase é muito utilizada por aqueles que querem propor medidas polêmicas para a opinião pública. Mas ela carrega diversas premissas embutidas como se fossem verdades universalmente aceitas. Vamos a elas:

Uma questão que precisa ser discutida
Mas já não está? Há fóruns, congressos, seminários e comissões discutindo os diversos aspectos médicos, sociais, psicológicos e até mesmo econômicos tanto da questão do consumo de drogas quanto da prática do aborto. E estas discussões ocorrem em universidades, conferências, igrejas e até mesmo no Congresso Nacional. Então porque os formadores de opinião dizem que é preciso discutir ainda mais estas questões?

Porque eles não querem discutir a questão em si. Para eles a as questões estão fechadas e eles não vão mudar de opinião. Eles são favoráveis a liberação do consumo de drogas e da liberação do aborto em qualquer circunstância. O problema é que a maioria da população brasileira é contra, então o que eles querem não é discutir nada mas sim impor a adoção destas práticas no Brasil com o mínimo de rejeição possível. Eles não querem realmente discutir a questão, não querem um debate, um confronto de ideias. O que querem é a divulgação exclusiva de seu ponto de vista como o único certo, sensato e científico para a população aceitar mais facilmente.

Hipocrisia
Nestes discursos, a palavra “hipocrisia” é muito utilizada. O que ela significa? Para estas pessoas, a luta contra as drogas e contra o aborto ilegal é uma luta perdida. Mais uma vez há um viés autoritário nesta afirmação. Tais pessoas partem do pressuposto de que a opinião delas não apenas é verdadeira como também é compartilhada por todos. E se todos concordam que a luta está perdida, mas mesmo assim são contra, então estão sendo hipócritas por defenderem algo que sabem não ser viável.

O que se percebe nestes discursos é uma mensagem subliminar, não dita mas sempre presente, de que seu ponto de vista seria a verdade e, mais cedo ou mais tarde, será adotado. Portanto, a discussão pretendida não é se sobre ser ou não a favor da liberação do aborto ou das drogas, mas sim de como fazer esta liberação, pois ela seria inevitável.

Sempre que ouvir alguém falando algo do tipo “temos de deixar a hipocrisia de lado e começar a discutir a questão...” você nem precisa saber o qual é a questão: já sabe que o autor da frase não quer discutir nada, quer simplesmente impor goela abaixo a sua vontade, seja ela qual for.

Existe uma famosa história que ilustra bem este tipo de discurso: Quando Henry Ford iniciou sua fábrica de automóveis, ele elaborou um complexo sistema de produção em série para obter maior rapidez de produção de seus carros reduzindo assim seus custos e, consequentemente, o preço final, tornando seus automóveis mais baratos do que de seus concorrentes. Mas a produção em série exigia o máximo possível de padronização e por isso, o modelo Ford T somente era produzido em uma única cor: preto. Quando perguntaram a ele se seus clientes não poderiam escolher comprar um Ford T de outra cor, a sua célebre resposta foi: “Claro que sim! Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto”.

Os defensores da legalização pensam da mesma maneira que Henry Ford: você pode discutir a questão desde que concorde plenamente com eles.

Mas ai de você se quiser discutir de verdade alguma questão. Se você mostrar racionalmente porque não concorda, e pior, provar por A + B que está certo, eles já tem um rótulo prontinho para colar em você: hipócrita.

É uma jogada de gênio: afirmar-se que quer discutir algo quando, na verdade, quer estabelecer um cronograma de implantação de sua ideia, como se já fosse consenso. E ainda chama de hipócrita quem pensa diferente, matando qualquer possibilidade real de se discutir a questão.

Isto sim, é o que eu chamo de hipocrisia.

sábado, 17 de março de 2012

Fé e Ideologia: quem guia quem?



O ser humano é guiado por suas convicções. Algumas delas são religiosas, outras são ideológicas ou, vá, políticas. Mas será que é possível conciliar estas convicções de origens tão distintas?

E neste processo de conciliação. Sua fé norteará suas convicções políticas ou será o contrário, sua fé será moldada e, porque não dizer, distorcida, para se encaixar na ideologia que move a sua vida?

O mundo se debate em duas grandes linhas ideológicas: direita e esquerda. No Brasil ser de direita não dá cartaz, então quem é de direita geralmente diz que “com a queda do Muro de Berlim estes conceitos estão ultrapassados, etc. e tal”. Já quem é direita costuma por a culpa de todos os males no capitalismo, é favorável a tudo o que a mídia diga que é progressista e contrário a tudo o que esta mesma mídia diga que é reacionário ou conservador, mesmo sem saber bem por quê.

Mas o que é direita e esquerda mesmo? Vamos primeiro ver o que é direita:

Direita é o termo geralmente utilizado para designar indivíduos e grupos relacionados com partidos políticos ou ideais considerados conservadores (em relação aos costumes) e/ou liberais (em relação à economia), por oposição à esquerda política.

Os direitistas podem ser divididos em quatro tipos básicos: libertários, liberais clássicos, democratas-cristãos e conservadores.

Os primeiros são liberais em relação à economia e nos costumes,alguns podendo defender algumas bandeiras comuns a parte da esquerda. Os democratas-cristãos podem ser moderadamente liberais em relação à Economia (defendendo a chamada economia social de mercado) mas conservadores nos costumes. Os conservadores tendem a combinar o conservadorismo nos costumes com uma grande diversidade de posições na área econômica, que vão do liberalismo econômico ao neomercantilismo.”

Como acabamos de ver aí em cima, não há uma direita, mas diversas direitas, que variam de visão tanto na questão dos costumes quanto na questão econômica. Nos EUA, vemos prevalecer os conservadores, especialmente no partido republicano. Isto fica bem claro nos discursos dos pré-candidatos a presidência dos EUA, cada um deles puxando seu discurso ou para o conservadorismo dos costumes ou para atacar a participação ativa do governo na economia.

Mas o que isto tem a haver conosco?

Bom, não há dúvida de como o movimento evangélico como um todo, e o pentecostal em particular, é fruto do trabalho missionário estrangeiro, especialmente de missionários americanos a partir da segunda metade do século XX. E junto com sua fé, trouxeram sua visão de mundo, fruto da mistura de suas convicções religiosas com suas convicções políticas.

O resultado disto é que hoje temos cristãos que acreditam piamente que um bom cristão não pode ser de esquerda (implicitamente isto quer dizer que tem de ser de direita), ser contrário a um Estado forte e presente, ser um defensor não apenas do capitalismo, mas do self made man – o homem tem de progredir pelo seu próprio esforço e qualquer tentativa de auxiliá-lo o transformará em um preguiçoso.

Nos EUA é ainda pior: muitos acham que um bom cristão tem de defender o porte (e o uso) de armas pelos civis, ser favorável a intervenção militar dos EUA em qualquer canto do planeta e que poluição jogada na atmosfera pelas indústrias não influenciam as mudanças climáticas que já estamos passando.

E quanto a esquerda? Vamos mais uma vez ao Wikipédia:

a esquerda é considerada a posição que geralmente implica o apoio a uma mudança do enfoque social, do governo em exercício, com o intuito de criar uma sociedade mais igualitária.

O espectro da esquerda política varia da centro-esquerda à extrema-esquerda. O termo centro-esquerda descreve uma posição ligada à política tradicional. Os termos extrema-esquerda e ultra-esquerda se referem a posições mais radicais, como os grupos ligados ao trotskismo e comunismo de conselhos. Dentre os grupos de centro-esquerda estão os social-democratas, progressistas e também alguns socialistas democráticos e ambientalistas (em particular eco-socialistas, esses no sentido tradicional. O centro-esquerda aceita a alocação de recursos no mercado de uma economia mista, com um setor público significativo e um setor privado próspero.

Integrantes da esquerda costumam ser liberais nos costumes, alinhando-se a alguns grupos de direita, como os libertários, por exemplo. Tanto liberais de esquerda como de direita defendem a regulamentação da união civil homossexual, a descriminalização do aborto, a legalização das drogas e outros temas controversos. Há, porém, aqueles que, embora defendam propostas de esquerda em relação à economia (intervenção estatal direta no combate à pobreza) e à política, são conservadores nos costumes.”

Como podemos ver, do ponto de vista ideológico, há uma verdadeira salada para todos os gostos.
Diferentemente das igrejas pentecostais, muitos integrantes das igrejas católica e das igrejas protestantes históricas se sentem mais à vontade com o ideário da esquerda, participando ativamente, inclusive de diversas ações sociais em defesa dos menos favorecidos.

Mas a Bíblia diz que não podemos servir a dois senhores. O problema é quando a ideologia que acreditamos entra em choque com aquilo que a Bíblia ensina. Quando isto acontece, podemos perceber claramente que para que lado vai o coração de alguns cristãos:

Já tive o desprazer de ler um artigo de um ulta conservador defendendo que a escravidão, embora errada, pelo menos possibilitou que os negros pudessem conhecer o evangelho e se converterem. Não teria sido mais fácil ter enviado missionários para a África do mercadores de escravos? O articulista que escreveu esta pérola se apresenta como um defensor da fé cristã, mas uma leitura acurada de seus textos percebe-se que ele na verdade, defende o ultraconservadorismo norte-americano. O cristianismo é apenas um artifício para isto.

Também já li notícias acerca de líderes de igrejas históricas não apenas defendendo como até mesmo consagrando pastores e bispos homossexuais, alegando que os tempos mudaram e a igreja hoje tem de ser inclusiva. Mas o que fazer com o texto bíblico que diz que os sodomitas ficarão de fora do reino dos céus? Riscar de suas Bíblias? Pular o versículo de forma envergonhada? Ou dizer que Deus se enganou ou estava errado quando inspirou a escrita deste texto?

Li certa vez um artigo que chegou ao cúmulo de supor que uma coleta de mantimentos para os irmãos necessitados na igreja de Jerusalém no século I seria a causa dela ter passado por uma fome que levou a que as igrejas de outras cidades a socorressem também com mantimentos. Não há nenhuma base bíblica, histórica ou arqueológica que sustente este ponto de vista. Mas para quem defende o self made man, ver a própria Bíblia descrevendo não uma esmola individual mas uma prática sistemática da igreja de apoio social é visto como contraditório a sua crença ideológica, e é preferível distorcer ou mesmo extrapolar o texto bíblico do que abrir mão desta convicção política.
Em um órgão de imprensa ligados a igrejas históricas de clara tendência de esquerda, leio notícias de apoio explícito a governo totalitários como o de Cuba e o da Venezuela e uma crítica intensa contra governos de direita, mesmo que democráticos. Mas ignoram completamente o impedimento da blogueira cubana Yoani Sánchez de sair da ilha ou a perseguição que Hugo Chávez da Venezuela e Rafael Correa do Equador fazer à imprensa sem seus países. Dois pesos e duas medidas, quando a Bíblia exige de nós seguirmos a reta justiça.

Em todos os exemplos acima, pinçados das mais variadas vertentes políticas o que vemos é a manipulação, consciente ou não, da fé cristã em nome de uma ideologia política.

Jesus Cristo disse que não se pode servir a dois senhores. E ele disse isto citando explicitamente às riquezas, fato este que o defensores do ideário da direita procuram esquecer. Porém, quando Judas reclamou de uma mulher ter gasto um caríssimo bálsamo despejando-o sobre Jesus, Ele retrucou dizendo que “os pobres sempre tereis convosco”, fato este que a esquerda também tenta esquecer, acreditando que por meio de revoluções políticas alcançaremos a justiça social.

Se cremos que o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é a expressão de um pensamento divino e, por consequência, perfeito e eterno, então ele não deve ser usado como muleta para o apoio desta ou daquela ideologia pois estas são humanas e, portanto, falíveis e passageiras.

Entre minha fé e minhas convicções políticas, fico com a minha fé. Afinal, para onde eu quero ir não é nem pela esquerda e nem pela direita que se chega lá. É pelo alto.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Como seria viver em uma sociedade sem Deus?


Esta é uma pergunta interessante, pelo menos eu acho: como seria viver em uma sociedade sem Deus? Obviamente não estou falando de uma presença física de Deus, mas sim do conceito de Deus. Na crença em um ser superior, tão puro, perfeito, santo, amoroso e, ao mesmo tempo, tão justo e presente que seja um fonte de inspiração, uma referência para como direcionarmos nossas vidas e refrearmos nossos instintos egocêntricos.

Sim, estou me referindo ao Deus da teologia judaico-cristã. Primeiro porque é a teologia que eu conheço melhor. E segundo, porque é esta crença que me inspira.

Pois bem como seria uma sociedade sem este referencial?

Acredito que veríamos um crescimento assustador do individualismo e do consumismo, justificados pelo mantra do “eu mereço”. Veríamos cada vez mais pessoas querendo comprar o smartphone mais caro e com mais recursos (mesmo que não precise ou nem sabia como usá-los) não porque, de fato, precisem dos recursos deste caro aparelho para obterem um status social de uma pessoa de sucesso. Troque o smartfone pelo tablet, carro zero, a bolsa de grife francesa ou uma TV LED 3D de 50 polegadas e o resultado será o mesmo.

Acredito que veríamos também a busca urgente e desenfreada pelo prazer suplantando qualquer senso de dever e responsabilidade. Se isto acontece, ouviríamos falar de mães solteiras que deixam seus bebês sozinhos em casa ou dentro de um carro para irem a um forró ou baile funk à noite.

Em uma sociedade sem Deus a vida não é sagrada. Jovens se sentem livres para sair em grupo com o único objetivo de bater covardemente até a morte em um mendigo, um gay ou em um outro jovem que por azar, estiver vestindo uma camisa de um time de futebol rival.

Em uma sociedade sem Deus os valores morais são relativizados e milhões são adestrados a ter um comportamento voyeur, acompanhando um bando de jovens descerebrados mas de físico perfeito se expondo em uma jaula midiática que simula uma casa de alto luxo onde sobram álcool e intrigas e faltam ideias e caráter. Neste zoológico humano, quem jogar melhor, isto é, quem dissimular mais, fizer as alianças certas e cativar a audiência bestificada, será premiado. As participantes que forem eliminadas antes podem, como prêmio de consolação, se exporem como vieram ao mundo em páginas de revistas masculinas. Talvez seja esta a mensagem que este programa de TV queira passar: os fins justificam os meios.

Em uma sociedade sem Deus veríamos os mais variados abusos no trânsito: carros ocupando a faixa de pedestres, tentando escapar de um engarrafamento trafegando pelo acostamento ou ainda costurando no trânsito em alta velocidade sem jamais ligar as setas de direção. Afinal, seus motorista estão com pressa e isto é a única coisa que importa.

Em uma sociedade sem Deus não há espaço para o conceito de ações e consequências, muito menos para palavras antigas como pecado, culpa ou repreensão. A busca pelo prazer sem compromisso não deve ser limitada por nada, nem mesmo por uma gravidez não planejada. A consequência é tratada como estorvo e não como um ser humano em formação. E todo estorvo ao prazer e a liberdade deve ser eliminado. E eliminada é a palavra certa, pois estamos falando de uma vida interrompida. Em uma sociedade sem Deus isto não é visto como uma crise de valores mas sim como “saúde pública”.

Em uma sociedade sem Deus não existe o conceito de sacrifício, de abrir mão em nome de um bem maior. Contando que as ilustres classes média e alta possam ter a liberdade de curtir seu barato, que importa se há pessoas que possuem a predisposição genética para se viciarem se consumirem entorpecentes? Em uma sociedade assim, o governo é cobrado para legalizar o consumo e depois se virar para tratar aqueles infelizes que são fracos e foram escravizados pela maconha, coca, crack e o que mais vier. Afinal, se cigarro e bebida alcoólica são liberados, seria hipocrisia proibir outras drogas. Seria mesmo? Não seria esta a verdadeira política de redução de danos? Mas não, para uma sociedade sem Deus, redução de danos é dar seringa para um usuário de cocaína não contrair o vírus da AIDS. Não seria melhor dar tratamento?

Em uma sociedade sem Deus, bebês são abandonados em lixeiras ao invés de em igrejas. Comida estragada é vendida a preço superfaturado para se preparar merendas em escolas públicas. Pacientes são assassinados para que seus órgãos sejam vendidos. Pessoas são assassinadas por causa de uma discussão de trânsito. Crianças são prostituídas debaixo do olhar complacente do poder público que deveria protegê-las.

Mas uma sociedade sem Deus tem um grave problema: O ser humano continua sendo em sua essência – para desespero de Dawkins e sua turma – um ser religioso. E a ausência de Deus na alma humana tem de ser preenchida de alguma forma. E para contornar isso, inventam-se mil coisas: sustentabilidade, ecologia, responsabilidade social, ONGs, voluntariado, ideologias, causas, bandeiras, culturas, estilos e muita, muita informação, a maioria inútil, para ocupar nossa mente e nosso tempo para não percebermos que ainda falta algo em nós.

Em uma sociedade sem Deus, haveria um profundo desprezo pela dignidade da vida humana. Não deixa ter a sua lógica.

Os povos antigos, quando invadiam as cidades fortificadas, destruíam seus templos para deixar claro que o deus daquela cidade não tinha poder suficiente para protegê-la. Mas o Deus da fé cristã não habita em templos, mas em vidas. E Deus sendo Santo, digno e ético, exige que sua habitação também seja.

Para se afastar Deus de sociedade humana seria necessário destruir o homem em sua dignidade, tornando-o um ser desprezível, abjeto e sem qualquer esperança pois aí Ele não teria onde morar, visto que Aquele que é puro não pode habitar na impureza.

Não estou escrevendo nada de novo. Um texto da Bíblia, escrito a quase dois mil anos atrás pelo apóstolo Paulo já descrevia como seria uma sociedade sem Deus:

“E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” Rm 1.28-32

Seria terrível viver em uma sociedade sem Deus.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Ateísmo científico é tudo, menos científico


O Ateísmo científico é tudo, menos científico




Um dos mais badalados cientistas da atualidade, o astrofísico americano-canadense Lawrence Krauss causou polêmica com o lançamento do livro A Universe From Nothing (Um Universo do Nada, em tradução livre). Segundo o autor, o universo aconteceu por acaso e veio do nada - algo instável e que sempre acaba reagindo, sem precisar de interferência divina.
Quando Krauss realizou uma apresentação sobre a origem do universo, enfureceu grupos religiosos americanos. Comentários acusando-o de querer acabar com Deus se multiplicaram na internet. Mas o autointitulado antiteista garante: essa era a intenção.

Em entrevista ao site de notícias Terra, Krauss afirma: “Não há propósito evidente para o universo. A vida no nosso universo pode ser apenas um acidente. Podemos tentar entender como o universo foi criado, mas não temos como identificar um objetivo evidente. Mas isso não deve nos desolar. É motivo para sermos mais felizes. O propósito e o significado da nossa vida são criados por nós. Isso nos dá mais poder. Em vez de sermos governados por um ditador universal, como meu amigo Christopher Hitchens (famoso ateísta autor do best-seller Deus não é grande (Ediouro), que recente morreu de câncer) diria, criamos nosso próprio significado. Isso deve nos empolgar, pois dá mais sentindo a tudo que fazemos.”

Quando o Terra lhe pergunta se ele então é ateu, Krauss responde: “Considero presunçoso se dizer ateísta, pois não posso garantir que o universo não foi criado com um objetivo, apesar de não haver nenhuma evidência disso. Mas posso dizer que não gostaria de viver em um universo onde existe um Deus, um universo onde eu não passaria de um cordeiro, sem controle sobre a minha existência.”

Ultimamente, temos visto um grande esforço de cientistas e formadores de opinião se esforçando bastante para tentar reduzir a crença de bilhões de pessoas na existência de um ser superior e criador do Universo ao nível da fábula e da superstição. Lawrence Krauss é apenas um deles.

Eles costumam afirmar que querem apenas descobrir a verdade, como as coisas de fato aconteceram, chegando ao conhecimento por meio da análise, do estudo, do cálculo matemático e da lógica. Porém, esta entrevista de Krauss revela algo mais por trás disto.

As palavras dele e de outros cientistas como Richard Dawkins e Christopher Hitchens já não escondem que há um objetivo além da busca pelo conhecimento: o de eliminarem a religião de um modo geral e a crença em um Deus pessoal e agente na História da humanidade.

O que isto importa? Importa que seus trabalhos, seja na biologia física ou astronomia, e, ainda mais importante, suas conclusões, não são fruto de um estudo isento das evidências e dados que conseguem coletar, mas o resultado de como estas evidências e dados podem ser úteis para corroborar uma opinião ou ideologia pré-existente.

Ou seja, acredito que suas convicções pessoais interferem na forma como interpretam os fatos e dados analisados. Mal comparando, é como se mostrássemos um copo com água pela metade a duas pessoas, uma pessimista e outra otimista. A pessimista diria que o copo está meio vazio. A otimista diria que está meio cheio. A visão de mundo delas deu interpretações opostas para o mesmo objeto observado.

Na entrevista, Krauss afirmou que “Não há propósito evidente para o universo. A vida no nosso universo pode ser apenas um acidente. Podemos tentar entender como o universo foi criado, mas não temos como identificar um objetivo evidente.” Na minha opinião, há muita arrogância acadêmica aí. Não há propósito evidente para a existência do universo aos nossos olhos humanos. Mas quem disse que o universo de tal magnitude tem de ser compreensível por nós para ter uma finalidade? E se o universo for de fato, o fruto de um Ser com tamanha capacidade intelectual e poder para criar algo de proporções tão fantásticas? Na minha opinião se for assim, este Universo de bilhões de anos e dimensões infinitas teria de seguir uma lógica determinada por este Ser onipotente e não por nós, míseros observadores humanos cuja existência mal chega aos 80 anos e que habitamos um planetinha perdido em volta de uma estrela de quinta grandeza situada na periferia da Via Láctea.

Aí está a arrogância intelectual: se eu não vejo lógica, então não há lógica. Se não há lógica então sua existência não foi fruto de uma mente racional. A premissa original está errada. Se eu não vejo lógica, pode ser apenas que eu não tenha capacidade intelectual suficiente para vê-la. Tanto isto é verdade, que a certo momento ele reconhece:

pois não posso garantir que o universo não foi criado com um objetivo”

Outro ponto da entrevista mostra uma indução ideológica nas conclusões de Krauss: “O propósito e o significado da nossa vida são criados por nós. Isso nos dá mais poder. Em vez de sermos governados por um ditador universal”

Para muitas pessoas, a ideia de haver um ser superior, não apenas em poder, mas moralmente superior, determinando o que é certo ou errado, é simplesmente inaceitável. É uma questão filosófica e não científica. Nossa sociedade rejeita o conceito de um Deus que ama, porque quem ama se importa, participa, quer estar junto e principalmente alertar, corrigir, tal qual um pai faz com seus filhos. Aliás, é isto o que se esperaria de um pai zeloso.

Mas tal como adolescentes, nossa civilização se considera adulta, senhora de seus próprio nariz e não quer que ninguém lhe diga o que é certo ou errado nem monitore o que faz, com quem anda e aonde vai porque quer fazer o errado. Para um adolescente rebelde e ansioso pela liberdade de agir sem medir as consequências, um pai presente e rígido em seus valores é sempre visto como um “ditador”. Este é o espírito da época em que vivemos. Isto fica evidente na seguinte frase de Krause:

Mas posso dizer que não gostaria de viver em um universo onde existe um Deus, um universo onde eu não passaria de um cordeiro, sem controle sobre a minha existência.”

Isto é uma visão distorcida do que seja um universo criado por Deus e do que seja o significado da vida. Cada um de nós, crentes ou ateus, temos um controle relativo de nossas vidas. Não controlamos a época, o país a família e nem mesmo o corpo com o qual nascemos. Nós não temos controle sobre a vida que recebemos, mas nós podemos controlar a vida que teremos. É assim com qualquer ser humano sobre a face da Terra, quer ele creia em um Deus, em vários deuses ou em deus nenhum. Não há ditadura, mas também não há liberdade total de escolha.

Parece que Krause imagina Deus como uma entidade autoritária e controladora, que impõe a sua soberana vontade sobre os pobres mortais. Tenho a impressão de que ele vê Deus como um operador de marionetes e nós seríamos estes pobres bonecos. Mas existe alguém base científica ou lógica para se supor que se há um Deus Criador de tudo teria de ser ele também manipulador de tudo? Me parece que isto é mais uma opinião preconcebida dele do que uma conclusão racional.

Ao ler a Bíblia, vejo um Deus diferente. Ele se apresenta como Pai, que ensina, orienta, alerta, briga, castiga, mas que também protege, abençoa e celebra. Mas, como todo pai, sua proteção e presença tem limites. Ele também respeita nossas decisões, mesmo aquelas que ele não concorda e que sabe que terão consequências ruins. E quando as consequências ruins vêem, nos iramos contra Ele porque não interveio em nosso favor.

Por tudo o que foi colocado acima, para muitas pessoas que se julgam inteligentes e auto-suficientes, é mais conveniente não crer em Deus, pois sua eterna e pura existência denuncia o quanto são limitados e falhos. Por isso preferem crer que o universo é fruto do nada do que o resultado de uma mente criadora.

Mas qual a explicação, então para o universo? Segundo o grande físico Stephen Hawking, o tempo passou a existir com o Big Bang, a explosão da partícula primordial que deu origem ao universo e nada poderia existir fora do tempo. Assim sendo, antes do Big Bang não havia nada. E qual a origem da partícula primordial? Não há explicação. De onde ela veio? Não há resposta. Simplesmente estava lá. Acham mais lógico crer que em momento havia apenas o vazio e no outro, sem motivo, causa ou explicação, surge uma hiper concentração de gazes cósmicos que explodem.

Mas numa coisa Hawking está certo. Antes da criação não havia tempo. Aliás, o milenar livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, concorda com ele, logo em seu primeiro versículo: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. O termo “princípio” marco inicial da contagem do tempo. Ou seja, quando Deus criou o universo, criou juntamente com ele o tempo. Portanto, Ele é Senhor do tempo também. Se Deus está fora do tempo, onde Ele está? A Bíblia responde mais uma vez:

Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos. Is. 57.15”

O Deus que eu creio não é um “nada cósmico”, nem tampouco um “ditador universal”, mas um Ser tão magnificamente poderoso e além da minha pobre compreensão que habita onde o tempo e o espaço se tornam um só: na eternidade. Porém, ao mesmo tempo é tão magnificamente amoroso que habita me um outro lugar tão belo quanto seu lar cósmico: o coração humilde e contrito das pessoas de fé.

Se nosso coração for minimamente humilde e contrito, quando olharmos para o céu azul, veremos mais do que uma grande concentração de oxigênio e outros gazes que dão à nossa atmosfera uma cor azulada. Nos emocionaremos também com maravilhosa beleza deste céu profundamente azul. Um céu tão belo que somente pode ser fruto de um Ser profundamente inteligente, sensível e puro. E o louvaremos por tudo o que Ele fez. Se olharmos para o céu de forma sem qualquer ideia preconcebida, e buscarmos uma razão lógica para tanta beleza, chegaremos a conclusão de que há um Deus que é o Senhor da Criação e, por isso, nosso Senhor também, pois nós somos parte dela.

Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” Sl 19.1