Esta é uma pergunta
interessante, pelo menos eu acho: como seria viver em uma sociedade
sem Deus? Obviamente não estou falando de uma presença física de
Deus, mas sim do conceito de Deus. Na crença em um ser
superior, tão puro, perfeito, santo, amoroso e, ao mesmo tempo, tão
justo e presente que seja um fonte de inspiração, uma referência
para como direcionarmos nossas vidas e refrearmos nossos instintos
egocêntricos.
Sim, estou me referindo
ao Deus da teologia judaico-cristã. Primeiro porque é a teologia
que eu conheço melhor. E segundo, porque é esta crença que me
inspira.
Pois bem como seria uma
sociedade sem este referencial?
Acredito que veríamos
um crescimento assustador do individualismo e do consumismo,
justificados pelo mantra do “eu mereço”. Veríamos cada vez mais
pessoas querendo comprar o smartphone mais caro e com mais recursos
(mesmo que não precise ou nem sabia como usá-los) não porque, de
fato, precisem dos recursos deste caro aparelho para obterem um
status social de uma pessoa de sucesso. Troque o smartfone pelo
tablet, carro zero, a bolsa de grife francesa ou uma TV LED 3D de 50
polegadas e o resultado será o mesmo.
Acredito que veríamos
também a busca urgente e desenfreada pelo prazer suplantando
qualquer senso de dever e responsabilidade. Se isto acontece,
ouviríamos falar de mães solteiras que deixam seus bebês sozinhos
em casa ou dentro de um carro para irem a um forró ou baile funk à
noite.
Em uma sociedade sem
Deus a vida não é sagrada. Jovens se sentem livres para sair em
grupo com o único objetivo de bater covardemente até a morte em um
mendigo, um gay ou em um outro jovem que por azar, estiver vestindo
uma camisa de um time de futebol rival.
Em uma sociedade sem
Deus os valores morais são relativizados e milhões são adestrados
a ter um comportamento voyeur, acompanhando um bando de jovens
descerebrados mas de físico perfeito se expondo em uma jaula
midiática que simula uma casa de alto luxo onde sobram álcool e
intrigas e faltam ideias e caráter. Neste zoológico humano, quem
jogar melhor, isto é, quem dissimular mais, fizer as alianças
certas e cativar a audiência bestificada, será premiado. As
participantes que forem eliminadas antes podem, como prêmio de
consolação, se exporem como vieram ao mundo em páginas de revistas
masculinas. Talvez seja esta a mensagem que este programa de TV
queira passar: os fins justificam os meios.
Em uma sociedade sem
Deus veríamos os mais variados abusos no trânsito: carros ocupando
a faixa de pedestres, tentando escapar de um engarrafamento
trafegando pelo acostamento ou ainda costurando no trânsito em alta
velocidade sem jamais ligar as setas de direção. Afinal, seus
motorista estão com pressa e isto é a única coisa que importa.
Em uma sociedade sem
Deus não há espaço para o conceito de ações e consequências,
muito menos para palavras antigas como pecado, culpa ou repreensão.
A busca pelo prazer sem compromisso não deve ser limitada por nada,
nem mesmo por uma gravidez não planejada. A consequência é tratada
como estorvo e não como um ser humano em formação. E todo estorvo
ao prazer e a liberdade deve ser eliminado. E eliminada é a palavra
certa, pois estamos falando de uma vida interrompida. Em uma
sociedade sem Deus isto não é visto como uma crise de valores mas
sim como “saúde pública”.
Em uma sociedade sem
Deus não existe o conceito de sacrifício, de abrir mão em nome de
um bem maior. Contando que as ilustres classes média e alta possam
ter a liberdade de curtir seu barato, que importa se há pessoas que
possuem a predisposição genética para se viciarem se consumirem
entorpecentes? Em uma sociedade assim, o governo é cobrado para
legalizar o consumo e depois se virar para tratar aqueles infelizes
que são fracos e foram escravizados pela maconha, coca, crack e o
que mais vier. Afinal, se cigarro e bebida alcoólica são liberados,
seria hipocrisia proibir outras drogas. Seria mesmo? Não seria esta
a verdadeira política de redução de danos? Mas não, para uma
sociedade sem Deus, redução de danos é dar seringa para um usuário
de cocaína não contrair o vírus da AIDS. Não seria melhor dar
tratamento?
Em uma sociedade sem
Deus, bebês são abandonados em lixeiras ao invés de em igrejas.
Comida estragada é vendida a preço superfaturado para se preparar
merendas em escolas públicas. Pacientes são assassinados para que
seus órgãos sejam vendidos. Pessoas são assassinadas por causa de
uma discussão de trânsito. Crianças são prostituídas debaixo do
olhar complacente do poder público que deveria protegê-las.
Mas uma sociedade sem
Deus tem um grave problema: O ser humano continua sendo em sua
essência – para desespero de Dawkins e sua turma – um ser
religioso. E a ausência de Deus na alma humana tem de ser preenchida
de alguma forma. E para contornar isso, inventam-se mil coisas:
sustentabilidade, ecologia, responsabilidade social, ONGs,
voluntariado, ideologias, causas, bandeiras, culturas, estilos e
muita, muita informação, a maioria inútil, para ocupar nossa mente
e nosso tempo para não percebermos que ainda falta algo em nós.
Em uma sociedade sem
Deus, haveria um profundo desprezo pela dignidade da vida humana. Não
deixa ter a sua lógica.
Os povos antigos,
quando invadiam as cidades fortificadas, destruíam seus templos para
deixar claro que o deus daquela cidade não tinha poder suficiente
para protegê-la. Mas o Deus da fé cristã não habita em templos,
mas em vidas. E Deus sendo Santo, digno e ético, exige que sua
habitação também seja.
Para se afastar Deus de
sociedade humana seria necessário destruir o homem em sua dignidade,
tornando-o um ser desprezível, abjeto e sem qualquer esperança pois
aí Ele não teria onde morar, visto que Aquele que é puro não pode
habitar na impureza.
Não estou escrevendo
nada de novo. Um texto da Bíblia, escrito a quase dois mil anos
atrás pelo apóstolo Paulo já descrevia como seria uma sociedade
sem Deus:
“E, como eles não se
importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um
sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando
cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza,
maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores,
soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e
às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural,
irreconciliáveis, sem misericórdia;
Os quais, conhecendo a
justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas
praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as
fazem.” Rm 1.28-32
Seria terrível viver
em uma sociedade sem Deus.
Recomendo assistir ao vídeo abaixo, resultado de um trabalho sociológico in loco.
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=BzI8kWvwzms
Prezado Edward,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, muito obrigado por ter visitado meu blog e ter deixado um comentário!
Vi e achei realmente muito interessante o vídeo.
Não há dúvida de que os países escandinavos estão no topo da pirâmide de bem-estar social. Quem dera tivéssemos algo parecido aqui em nosso Brazilsão!
Porém, creio que eu possa classificar como um fato o relacionamento utilitarista que nós, seres humanos, procuramos desenvolver com Deus.
Deus somente é procurado, ou pior, concedemos à Ele o direito de "existir" se precisarmos dele para alguma coisa. Portanto, não é de se estranhar que quanto mais desenvolvida for a sociedade, menos religiosa ela é.
A prosperidade afastou os escandinavos de Deus, mas isto não quer dizer que eles mergulhariam imediatamente no caos e na barbárie. Estas são sociedades bastante antigas e alicerçadas em sólidas instituições legais e governamentais, instituições estas forjadas sob as bases da moral e da ética cristã.
Na prática, a atual sociedade sem Deus destes países colhe os frutos da sociedade construída por seus antepassados sob bases cristãs.
Mas o que aconteceria se a crise econômica voltasse e o Estado não tivesse mais como manter o bem-estar social?
Quanto tempo levaria para que os mais pragmáticos começassem a viver sob as leis do darwinismo, considerando que o mais forte ou mais apto deveria se sobrepor ao mais fraco?
Não é no período de bonança que os valores de uma sociedade são testados, mas nos tempos de crise.