sábado, 18 de fevereiro de 2012

Como seria viver em uma sociedade sem Deus?


Esta é uma pergunta interessante, pelo menos eu acho: como seria viver em uma sociedade sem Deus? Obviamente não estou falando de uma presença física de Deus, mas sim do conceito de Deus. Na crença em um ser superior, tão puro, perfeito, santo, amoroso e, ao mesmo tempo, tão justo e presente que seja um fonte de inspiração, uma referência para como direcionarmos nossas vidas e refrearmos nossos instintos egocêntricos.

Sim, estou me referindo ao Deus da teologia judaico-cristã. Primeiro porque é a teologia que eu conheço melhor. E segundo, porque é esta crença que me inspira.

Pois bem como seria uma sociedade sem este referencial?

Acredito que veríamos um crescimento assustador do individualismo e do consumismo, justificados pelo mantra do “eu mereço”. Veríamos cada vez mais pessoas querendo comprar o smartphone mais caro e com mais recursos (mesmo que não precise ou nem sabia como usá-los) não porque, de fato, precisem dos recursos deste caro aparelho para obterem um status social de uma pessoa de sucesso. Troque o smartfone pelo tablet, carro zero, a bolsa de grife francesa ou uma TV LED 3D de 50 polegadas e o resultado será o mesmo.

Acredito que veríamos também a busca urgente e desenfreada pelo prazer suplantando qualquer senso de dever e responsabilidade. Se isto acontece, ouviríamos falar de mães solteiras que deixam seus bebês sozinhos em casa ou dentro de um carro para irem a um forró ou baile funk à noite.

Em uma sociedade sem Deus a vida não é sagrada. Jovens se sentem livres para sair em grupo com o único objetivo de bater covardemente até a morte em um mendigo, um gay ou em um outro jovem que por azar, estiver vestindo uma camisa de um time de futebol rival.

Em uma sociedade sem Deus os valores morais são relativizados e milhões são adestrados a ter um comportamento voyeur, acompanhando um bando de jovens descerebrados mas de físico perfeito se expondo em uma jaula midiática que simula uma casa de alto luxo onde sobram álcool e intrigas e faltam ideias e caráter. Neste zoológico humano, quem jogar melhor, isto é, quem dissimular mais, fizer as alianças certas e cativar a audiência bestificada, será premiado. As participantes que forem eliminadas antes podem, como prêmio de consolação, se exporem como vieram ao mundo em páginas de revistas masculinas. Talvez seja esta a mensagem que este programa de TV queira passar: os fins justificam os meios.

Em uma sociedade sem Deus veríamos os mais variados abusos no trânsito: carros ocupando a faixa de pedestres, tentando escapar de um engarrafamento trafegando pelo acostamento ou ainda costurando no trânsito em alta velocidade sem jamais ligar as setas de direção. Afinal, seus motorista estão com pressa e isto é a única coisa que importa.

Em uma sociedade sem Deus não há espaço para o conceito de ações e consequências, muito menos para palavras antigas como pecado, culpa ou repreensão. A busca pelo prazer sem compromisso não deve ser limitada por nada, nem mesmo por uma gravidez não planejada. A consequência é tratada como estorvo e não como um ser humano em formação. E todo estorvo ao prazer e a liberdade deve ser eliminado. E eliminada é a palavra certa, pois estamos falando de uma vida interrompida. Em uma sociedade sem Deus isto não é visto como uma crise de valores mas sim como “saúde pública”.

Em uma sociedade sem Deus não existe o conceito de sacrifício, de abrir mão em nome de um bem maior. Contando que as ilustres classes média e alta possam ter a liberdade de curtir seu barato, que importa se há pessoas que possuem a predisposição genética para se viciarem se consumirem entorpecentes? Em uma sociedade assim, o governo é cobrado para legalizar o consumo e depois se virar para tratar aqueles infelizes que são fracos e foram escravizados pela maconha, coca, crack e o que mais vier. Afinal, se cigarro e bebida alcoólica são liberados, seria hipocrisia proibir outras drogas. Seria mesmo? Não seria esta a verdadeira política de redução de danos? Mas não, para uma sociedade sem Deus, redução de danos é dar seringa para um usuário de cocaína não contrair o vírus da AIDS. Não seria melhor dar tratamento?

Em uma sociedade sem Deus, bebês são abandonados em lixeiras ao invés de em igrejas. Comida estragada é vendida a preço superfaturado para se preparar merendas em escolas públicas. Pacientes são assassinados para que seus órgãos sejam vendidos. Pessoas são assassinadas por causa de uma discussão de trânsito. Crianças são prostituídas debaixo do olhar complacente do poder público que deveria protegê-las.

Mas uma sociedade sem Deus tem um grave problema: O ser humano continua sendo em sua essência – para desespero de Dawkins e sua turma – um ser religioso. E a ausência de Deus na alma humana tem de ser preenchida de alguma forma. E para contornar isso, inventam-se mil coisas: sustentabilidade, ecologia, responsabilidade social, ONGs, voluntariado, ideologias, causas, bandeiras, culturas, estilos e muita, muita informação, a maioria inútil, para ocupar nossa mente e nosso tempo para não percebermos que ainda falta algo em nós.

Em uma sociedade sem Deus, haveria um profundo desprezo pela dignidade da vida humana. Não deixa ter a sua lógica.

Os povos antigos, quando invadiam as cidades fortificadas, destruíam seus templos para deixar claro que o deus daquela cidade não tinha poder suficiente para protegê-la. Mas o Deus da fé cristã não habita em templos, mas em vidas. E Deus sendo Santo, digno e ético, exige que sua habitação também seja.

Para se afastar Deus de sociedade humana seria necessário destruir o homem em sua dignidade, tornando-o um ser desprezível, abjeto e sem qualquer esperança pois aí Ele não teria onde morar, visto que Aquele que é puro não pode habitar na impureza.

Não estou escrevendo nada de novo. Um texto da Bíblia, escrito a quase dois mil anos atrás pelo apóstolo Paulo já descrevia como seria uma sociedade sem Deus:

“E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” Rm 1.28-32

Seria terrível viver em uma sociedade sem Deus.

2 comentários:

  1. Recomendo assistir ao vídeo abaixo, resultado de um trabalho sociológico in loco.

    http://www.youtube.com/watch?v=BzI8kWvwzms

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  2. Prezado Edward,

    Em primeiro lugar, muito obrigado por ter visitado meu blog e ter deixado um comentário!

    Vi e achei realmente muito interessante o vídeo.

    Não há dúvida de que os países escandinavos estão no topo da pirâmide de bem-estar social. Quem dera tivéssemos algo parecido aqui em nosso Brazilsão!

    Porém, creio que eu possa classificar como um fato o relacionamento utilitarista que nós, seres humanos, procuramos desenvolver com Deus.

    Deus somente é procurado, ou pior, concedemos à Ele o direito de "existir" se precisarmos dele para alguma coisa. Portanto, não é de se estranhar que quanto mais desenvolvida for a sociedade, menos religiosa ela é.

    A prosperidade afastou os escandinavos de Deus, mas isto não quer dizer que eles mergulhariam imediatamente no caos e na barbárie. Estas são sociedades bastante antigas e alicerçadas em sólidas instituições legais e governamentais, instituições estas forjadas sob as bases da moral e da ética cristã.

    Na prática, a atual sociedade sem Deus destes países colhe os frutos da sociedade construída por seus antepassados sob bases cristãs.

    Mas o que aconteceria se a crise econômica voltasse e o Estado não tivesse mais como manter o bem-estar social?

    Quanto tempo levaria para que os mais pragmáticos começassem a viver sob as leis do darwinismo, considerando que o mais forte ou mais apto deveria se sobrepor ao mais fraco?

    Não é no período de bonança que os valores de uma sociedade são testados, mas nos tempos de crise.

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