"Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto ."
Li
recentemente no site de notícias Terra uma interessante entrevista
da deputada federal Luíza Erundina sobre suas dificuldades internas
e externas para concorrer e ganhar as eleições para prefeitura de
São Paulo. No final da entrevista entretanto, falando de sua linha
de atuação como deputada ela afirma:
“O
Brasil é uma nação extremamente atrasada nessa discussão porque
deixa que a religião influencie nas políticas de um Estado laico.
Entendo o direito dos religiosos de não permitir práticas como o
aborto aos seus membros, mas estender isso a toda população é um
erro grave. (...) Se a mulher tivesse um papel maior nas esferas de
poder, tenho certeza de que não seria tão difícil discutir temas
como esse, que envolvem direitos individuais, civis, e até direitos
humanos”
Neste
comentário ela repete um ponto de vista que tem se tornado clichê
entre os defensores do aborto e da legalização do consumo de
drogas: a discussão.
“Alunos
da USP que organizaram a Semana de Barba, Bigode e Baseado disseram
nesta sexta-feira que não imaginavam a repercussão do evento,
marcado para ocorrer entre segunda e sexta-feira na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Cidade
Universitária. “O evento incita muito mais a discussão do que o
uso de qualquer droga”, diz Caetano Patta, de 23 anos, um dos
fundadores da Frente Uspiana de Mobilização Antiproibicionista
(Fuma), organizadora da semana.”
link:
http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/04/16/universidade-e-lugar-para-discutir-drogas-sem-preconceito-diz-organizador-de-evento-na-usp/
Mas
se analisarmos o contexto destas e de diversas outras frases
semelhantes, eles não querem discutir a questão. Querem a imposição
da aceitação.
“A
questão do aborto/das drogas precisa ser discutido
sem hipocrisia.”
Esta frase é muito utilizada por aqueles que querem propor medidas
polêmicas para a opinião pública. Mas ela carrega diversas
premissas embutidas como se fossem verdades universalmente aceitas.
Vamos a elas:
Uma
questão que precisa ser discutida
Mas
já não está? Há fóruns, congressos, seminários e comissões
discutindo os diversos aspectos médicos, sociais, psicológicos e
até mesmo econômicos tanto da questão do consumo de drogas quanto
da prática do aborto. E estas discussões ocorrem em universidades,
conferências, igrejas e até mesmo no Congresso Nacional. Então
porque os formadores de opinião dizem que é preciso discutir ainda
mais estas questões?
Porque
eles não querem discutir a questão em si. Para eles a as questões
estão fechadas e eles não vão mudar de opinião. Eles são
favoráveis a liberação do consumo de drogas e da liberação do
aborto em qualquer circunstância. O problema é que a maioria da
população brasileira é contra, então o que eles querem não é
discutir nada mas sim impor a adoção destas práticas no Brasil com
o mínimo de rejeição possível. Eles não querem realmente
discutir a questão, não querem um debate, um confronto de ideias. O
que querem é a divulgação exclusiva de seu ponto de vista como o
único certo, sensato e científico para a população aceitar mais
facilmente.
Hipocrisia
Nestes
discursos, a palavra “hipocrisia” é muito utilizada. O que ela
significa? Para estas pessoas, a luta contra as drogas e contra o
aborto ilegal é uma luta perdida. Mais uma vez há um viés
autoritário nesta afirmação. Tais pessoas partem do pressuposto de
que a opinião delas não apenas é verdadeira como também é
compartilhada por todos. E se todos concordam que a luta está
perdida, mas mesmo assim são contra, então estão sendo hipócritas
por defenderem algo que sabem não ser viável.
O
que se percebe nestes discursos é uma mensagem subliminar, não dita
mas sempre presente, de que seu ponto de vista seria a verdade e,
mais cedo ou mais tarde, será adotado. Portanto, a discussão
pretendida não é se sobre ser ou não a favor da liberação do
aborto ou das drogas, mas sim de como fazer esta liberação, pois
ela seria inevitável.
Sempre
que ouvir alguém falando algo do tipo “temos de deixar a
hipocrisia de lado e começar a discutir a questão...” você nem
precisa saber o qual é a questão: já sabe que o autor da frase não
quer discutir nada, quer simplesmente impor goela abaixo a sua
vontade, seja ela qual for.
Existe
uma famosa história que ilustra bem este tipo de discurso: Quando
Henry Ford iniciou sua fábrica de automóveis, ele elaborou um
complexo sistema de produção em série para obter maior rapidez de
produção de seus carros reduzindo assim seus custos e,
consequentemente, o preço final, tornando seus automóveis mais
baratos do que de seus concorrentes. Mas a produção em série
exigia o máximo possível de padronização e por isso, o modelo
Ford T somente era produzido em uma única cor: preto. Quando
perguntaram a ele se seus clientes não poderiam escolher comprar um
Ford T de outra cor, a sua célebre resposta foi: “Claro que sim!
Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto”.
Os
defensores da legalização pensam da mesma maneira que Henry Ford:
você pode discutir a questão desde que concorde plenamente com
eles.
Mas
ai de você se quiser discutir de verdade alguma questão. Se você
mostrar racionalmente porque não concorda, e pior, provar por A + B
que está certo, eles já tem um rótulo prontinho para colar em
você: hipócrita.
É
uma jogada de gênio: afirmar-se que quer discutir algo quando, na
verdade, quer estabelecer um cronograma de implantação de sua
ideia, como se já fosse consenso. E ainda chama de hipócrita quem
pensa diferente, matando qualquer possibilidade real de se discutir a
questão.
Isto
sim, é o que eu chamo de hipocrisia.
Ao passar pela net encontrei o seu blog, estive a ler algumas coisas e posso dizer que é um blog fantástico,
ResponderExcluircom um bom conteúdo, dou-lhe os meus parabéns.
Se desejar fazer parte de meus amigos virtuais esteja à vontade, decerto que irei retribuir seguindo também o seu blog.
Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.
Prezado António,
ExcluirMuito obrigado por suas palavras. Sem dúvida visitarei seu blog e creio que este será o inpicio de muitas outras visitas.
Em Cristo,
Robson Rocha