A maconha não faz isso. Mas a maioria das pessoas que chegou neste estágio começou com ela.
Ninguém
em sã consciência nega que a questão das drogas é um grave
problema de difícil solução. Quando pensamos em drogas, nos vem à
mente diversos problemas originados de seu consumo tais como:
dependência química, alteração de personalidade, crises de
abstinência, perda do senso de realidade, agressividade, e
criminalidade.
Mas
apesar disto, há quem defenda a descriminalização ou mesmo a
legalização de seu consumo, ao menos daquela que consideram a menos
nociva delas: a maconha.
Como
já afirmei em meu post Discussão
ou imposição?,
o discurso dos defensores desta proposta dá a entender que a
sociedade brasileira tem se recusado a pensar em
soluções alternativas para o caos que as drogas geram ao afirmarem
que: “chegou a hora de discutir a legalização das drogas” ou
“temos de deixar de hipocrisia e discutir a descriminalização das
drogas”.
Há
um eufemismo aí. Quando falam em “discutir a questão” não
estão querendo falar em “debater a questão”, mas sim em “Vamos
discutir como e em que ritmo vamos implantar a legalização das
drogas”.
Mas
vamos discutir a questão. De verdade. Sem eufemismos.
Um
argumento muito usado pelos defensores da descriminalização do
consumo de drogas é que esta “deve ser abordada como uma questão
de saúde pública e não criminal”, que não se deve tratar como
criminoso alguém que está doente.
Na
verdade, a coisa começa como um crime – compra, posse e consumo de
drogas –, que progride para uma doença – a dependência química
decorrente deste consumo. Mas esqueçamos por enquanto a questão
criminal e vamos tratar da questão de saúde. E se o assunto é
esse, nada melhor do que ouvir um profissional da saúde – um
médico, o doutor Joaquim Melo:
“A
teoria de substituir a criminalização das drogas por uma abordagem
de saúde pública é frágil na prática. Não é realista
pretender trocar uma pela outra, pois elas estão relacionadas e tem
de ser complementares e não excludentes.
Pode
ser que a descriminalização melhore as estatísticas de segurança,
mas inevitavelmente vai multiplicar as dificuldades na saúde.
Com o agravante de que essa abordagem deixa de combater a origem para
remediar as causas, o que, em qualquer circunstância, prejudica os
resultados e aumenta os custos.”
Fonte:
Prudência com a maconha. Artigo publicado no jornal O Globo de
24/08/2013
Ele
deve saber do que diz, afinal, o dr. Melo é presidente da Associação
Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas. Neste artigo ele
questiona a eficácia e mesmo a lógica de liberar o consumo de
drogas leves como a maconha, quando governo e sociedade fazem um
grande esforço no sentido contrário, na restrição cada vez maior
ao consumo de cigarro e bebidas alcoólicas – com bons resultados.
Mas
o doutor Melo também citou que a descriminalização fatalmente
levaria a uma multiplicação de dificuldades na saúde. Por quê? A
resposta vem da Inglaterra:
“Especialistas
alertam que o público perigosamente subestima os riscos de saúde
ligados a fumar maconha.
A Fundação
Britânica do Pulmão (BLF, na sigla em inglês) realizou um
levantamento com mil adultos e constatou que um terço erroneamente
acredita que a cannabis não prejudica a saúde.
E 88% pensavam
incorretamente que cigarros de tabaco seriam mais prejudiciais do que
os de maconha -- quando um
cigarro de maconha traz os mesmos riscos de um maço de cigarros.
A BLF afirma quer a
falta de consciência é "alarmante".
Um novo relatório
do BLF diz que há ligações científicas entre fumar maconha e a
ocorrência de tuberculose, bronquite aguda e câncer de pulmão.
O uso de cannabis
também tem sido associado ao aumento
da possibilidade de o usuário desenvolver problemas de saúde
mental, como a esquizofrenia.
Parte da razão para
isso, dizem os especialistas, é que as pessoas, ao fumar maconha,
fazem inalações mais profundas e mantêm a fumaça por mais tempo
do que quando fumam cigarros de tabaco.
Isso significa que
alguém fumando um cigarro de maconha traga quatro vezes mais
alcatrão do que com um cigarro de tabaco, e cinco vezes mais
monóxido de carbono, diz a BLF.”
Segundo o dr. Melo,
países que adotaram a descriminalização viram o consumo das drogas
crescerem e com usuários que começavam a consumi-las cada vez mais
cedo. Mais ainda: ele afirma que há estudos que apontam que parte
destes novos usuários deve evoluir para o consumo de outras drogas,
como o crack.
Ou seja, a solução
proposta não vai resolver o problema, apenas mascarar sua faceta
criminosa, mesmo que isto leve a um aumento exponencial de
consumidores e – por consequência – dependentes que
sobrecarregarão ainda mais o já combalido sistema de saúde do
país.
A solução apresentada
é muito conveniente. Se deixa de ser crime, pode ser consumido. Se
for consumido por uma decisão livre do cidadão é um direito dele.
Mas se o consumo gerar tudo o que já foi exposto acima: dependência,
tuberculoze, câncer, esquizofrenia ou mesmo levar o indivíduo à
cocaína e ao crack, aí a responsabilidade é do Estado que tem o
dever de cuidar dele.
E aí vivemos o paraíso
hedonista de nossos formadores de opinião: o indivíduo nunca é
responsabilizado por seus atos e escolhas, ao contrário, é tratado
como vítima do destino. O vilão é o governo que não tem
hospitais e clínicas de recuperação suficientes, ou políticas
públicas suficientes ou campanhas educativas suficientes.
Na
verdade, já se está fazendo isso. Ao invés de se fazerem campanhas
alertando para os perigos do consumo de drogas, fazem-se campanhas
para vitimizar o usuário de drogas:
“A carioca X-Tudo
Comunicação Completa assina campanha de apoio ao projeto de lei
pela descriminalização do usuário de drogas, que irá tramitar no
Congresso.
Criada para a CBDD
(Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia), com apoio da ONG
carioca Viva Rio, a comunicação discute o tema a partir do bordão
: “É justo isso?”.
A meta é reunir 1,3
milhão de assinaturas e apresentá-las no Congresso, em 2013.
Luana Piovani, Luiz Melo, Isabel Fillardis, Felipe Camargo, Jonathan Azevedo e Regina Sampaio, entre outros, protagonizam a campanha, e interpretam casos reais que aconteceram por causa de legislação que não difere o usuário do traficante. Também há a participação de dois defensores públicos, Rodrigo Pacheco e Daniel Nicory.
Luana Piovani, Luiz Melo, Isabel Fillardis, Felipe Camargo, Jonathan Azevedo e Regina Sampaio, entre outros, protagonizam a campanha, e interpretam casos reais que aconteceram por causa de legislação que não difere o usuário do traficante. Também há a participação de dois defensores públicos, Rodrigo Pacheco e Daniel Nicory.
A comunicação conta
com filmes para TV, anúncios para revista e jornal, spots para rádio
e peças para internet.”
Ou
seja: uma pessoa conscientemente decidiu comprar e consumir drogas,
sabendo que isto é um crime. Algumas dessas pessoas compraram em
grande quantidade seja para fazer um estoque próprio, seja para
rachar com outros usuários, mas foram presas, julgadas e, algumas
delas, condenadas. É justo isso? Sim, é justo, pois foi a escolha
delas. Compraram e consumiram drogas sabendo de seus riscos. Não há
porque tratá-las como vítimas, a não ser de si próprias.
Não
é interessante? Se a campanha é contra o consumo não aparece
nenhuma celebridade. Mas se a campanha é para legalizar ou
coitadinhizar
o usuário, aí não faltam nomes famosos. Isto acontece porque em
nossos formadores de opinião glamurizam o alternativo, o marginal o
outsider
e tratam o correto e honesto como careta, conservador, retrógrado e
burguês. O resultado é esta inversão de valores que vemos
diariamente em nossa sociedade.
Mas
deixemos de lado minha opiniões e voltemos a questões de saúde.
Saúde mental. Qual a opinião do psiquiatra Ronaldo Laranjeira,
professor da Unifesp a respeito do impacto do consumo de maconha na
mente de nossos jovens e adolescentes?
"Há
quase 500 mil adolescentes usando maconha regularmente. Isso dá uma
visão do tamanho do problema (...) e há um impacto do ponto de
vista de saúde pública, desemprego e suicídio", explica.
Laranjeiras
comentou ainda que, desde 2006, com a mudança da lei para
despenalizar o uso de drogas, é possível que tenha ocorrido um
aumento no consumo de maconha. Para ele, houve uma "frouxidão
legislativa", que alterou a figura do usuário e impediu a pena
de prisão com novas sanções alternativas.”
O
professor Laranjeira tem base para fazer esta afirmação. Ele é um
dos organizadores do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas
(Lenad) realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). E ele também aponta as consequências neurológicas
que esta frouxidão tem trazido para outros países:
"Nos EUA, a
maior busca de dependentes químicos por tratamento hoje é de
usuários de maconha. Dados da Nova Zelândia apontam que tem
crescido o número de pessoas com transtornos psicóticos e
esquizofrenia em decorrência do uso da maconha. Nenhuma outra droga
causa esquizofrenia, e essa é a pior doença da psiquiatria. Quem
vai cuidar dos 10% dos usuários expostos a esse risco? Quem é a
favor da legalização deveria responder isso", diz Laranjeira.”
Legalizar o consumo
significa facilitar o acesso. Sua consequência direta será a
ampliação de usuários. Ainda mais em uma sociedade em que o
consumo de maconha é retratado como algo libertário, descolado e
moderno enquanto a abstenção é visto como algo conservador e
careta. Ou seja, do ponto de vista imagético, é quase irresistível
para um adolescente ou jovem resistir a um convite para “dar um
tapinha”. Os mesmos que defendem a sua descriminalização são
aqueles que constroem uma imagem sedutora de seu consumo. Se hoje
temos no Brasil, segundo os estudos do Lenad, 3% da população
adulta tendo consumido drogas no último ano, com a legalização
poderemos chegar em pouco tempo ao nível de consumo dos EUA: 10% da
população adulta. E o nosso já combalido sistema de saúde é que
terá de arcar com isso. A "questão de saúde pública" se tornaria uma epidemia.
Os doutores Melo e
Laranjeiras concordam que a descriminalização não ajuda em nada e
vão além: parte da resposta está é no endurecimento no tratamento
da questão – o que não significa absolutamente colocar usuário
na cadeia:
“Os países com
menor consumo de maconha, como Suécia e Japão, têm mais rigor e
restrições. A solução não é colocar os usuários na prisão,
mas nesses lugares há uma certa intolerância com o consumo. Ou
vamos por esse caminho ou liberamos e aumentamos o uso. Será que a
minoria vai determinar e pautar o que a gente quer como sociedade?"
“As políticas
relativas às drogas lícitas, aliás, oferecem mais informações.
Está claro o sucesso de medidas mais rígidas em relação ao
cigarro, com diminuição expressiva no número de fumantes. Da mesma
maneira, a Lei Seca apresentou inegáveis resultados positivos. Em
ambos os casos, o raciocínio é o inverso das propostas sobre a
maconha”.
Fonte:
Prudência com a maconha. Artigo publicado no jornal O Globo de
24/08/2013
Sabemos
que alguma pessoas tem uma maior predisposição à dependência
química do que outras. Assim como há pessoas que consomem maconha
sem se viciarem há também pessoas que não apenas criam dependência
como aprofundam sua dependência consumindo outras drogas mais
pesadas.
Ao
descriminalizar o consumo de maconha para que uma parcela ínfima de
pessoas descoladas possam ter o seu barato sem serem importunadas,
corremos um risco real: o de facilitar o acesso a esta droga a um
número muito maior de pessoas que carregam dentro de si, sem
saberem, a predisposição genética à dependência química e a
todas as desgraças que vem com ela. Aproveitando o tema da campanha
pró-descriminalização, deixo uma pergunta no ar: é justo isso?
A
saída não está na descriminalização do consumo de drogas. Está
no abandono voluntário de seu consumo daqueles que fazem uso
“recreativo” delas. As Sagradas Escrituras já mostravam o
caminho:
“Ora,
nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e
não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao
próximo no que é bom para edificação”. Rm 15.1
Para
aqueles que se sentem injustiçados por terem de, pela força da lei,
abrir mão de um prazer para que um desconhecido de organismo fraco
não venha a se tornar um dependente químico, sugiro que veja isto
por um outro ângulo. Não abra mão apenas por que a lei exige. Abra
mão por que você se importa. Porque você é solidário. Abra mão
porque a vida de um desconhecido é mais importante do que os minutos
de relaxamento provocado por um vapor barato. Isto seria um grande
ato de amor pela vida.
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