Levei
um bom tempo antes de meter a minha colher neste imbróglio
envolvendo Marco Feliciano, Jean Wyllys e a Comissão de Diretos
Humanos da Câmara dos Deputados.
Vamos
primeiro aos fatos: Na partilha que ocorre dentro do regimento
interno da Câmara, coube ao PSC indicar um nome para a presidência
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Indicaram o nome
do deputado Marco Feliciano. Colocado em votação, seu nome foi
aprovado.
Quais
são as atribuições da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?
“A
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) é uma das 20
comissões permanentes da Câmara dos Deputados, onde atua como órgão
técnico constituído por 18 deputados membros e igual número de
suplentes, apoiada por um grupo de assessores e servidores
administrativos.
Suas
atribuições constitucionais e regimentais são receber, avaliar e
investigar denúncias de violações de direitos humanos; discutir e
votar propostas legislativas relativas à sua área temática;
fiscalizar e acompanhar a execução de programas governamentais do
setor; colaborar com entidades não-governamentais; realizar
pesquisas e estudos relativos à situação dos direitos humanos no
Brasil e no mundo, inclusive para efeito de divulgação pública e
fornecimento de subsídios para as demais Comissões da Casa; além
de cuidar dos assuntos referentes às minorias étnicas e sociais,
especialmente aos índios e às comunidades indígenas, a preservação
e proteção das culturas populares e étnicas do País.”
Porém,
ato contínuo a nomeação de Feliciano, irados protestos eclodiram
na própria Comissão e em diversos setores da sociedade se
manifestaram contra a nomeação do deputado Marco Feliciano. Desde o
início dos protestos, muitos dos quais obstruindo as sessões na
Comissão, se projetou o nome do também deputado Jean Wyllys.
Mas
qual a razão de tanto celeuma?
A
Comissão de Comissão e Justiça da Câmara dos depurados era
presidida e tinha a maioria de seus integrantes deputados que
compartilhavam da mesma visão para esta área: a defesa do aborto
com um direito da mulher, a descriminalização e a liberação do
consumo de drogas como uma ação de redução de danos e a defesa
dos interesses dos grupos GLBT organizados.
O
deputado Marco Feliciano apesar de membro ativo da referida comissão
com diversas proposições efetuadas, não comunga com a visão
acima. Pior ainda: é um pastor evangélico e como tal, visto como um
adversário e não como um colega na defesa dos direitos humanos.
O
que parecia ser um típico caso de preconceito contra evangélicos
ganhou novo contornos quando foram divulgadas postagens do deputado e
pastor Marco Feliciano na rede social Twitter interpretados como
racistas e homofóbicos. Seguem abaixo alguns deles:
“Africanos
descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isto é fato. O motivo
da maldição é a polêmica. Não sejam irresponsáveis twitters
rss.”
“Qdo
falei este assunto aqui, os ativistas gays quase me lincharam. Qdo
associei AIDS à homossexualidade fui duramente confrontado.”
“os
artistas são a favor do casamento gay; os intelectuais também são.
Resta aos cristãos e conservadores de valores morais lutarem.”
E
piorou mais ainda com a divulgação de vídeos onde o pastor reclama
de um fiel que doou o cartão de crédito sem a senha:
“É
a última vez que eu falo. Samuel de Souza doou o cartão, mas não
doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir o milagre pra Deus e
Deus não vai dar e vai falar que Deus é ruim.”
A
repercussão de seus comentários levou a diversas personalidades a
se manifestarem a respeito da inconvenciência de Marco Feliciano
como presidente da CDHM:
"É
algo que se insere no âmbito do Congresso Nacional, mas que, com
toda a evidência, não se trata de uma indicação adequada. Acho
que o próprio partido deve perceber que há pessoas mais
vocacionadas para esse trabalho."
Roberto Gurgel,
procurador-geral da República,
“O
pastor Feliciano jamais poderia assumir a Comissão de Direitos
Humanos. Ele
é despreparado e não tem os princípios básicos que essa comissão
precisa. Ele não tem condições mesmo. Eu
não gosto quando a questão fica religiosa, ela é uma discussão de
cultura de direitos humanos, coisa que o deputado não tem. Não
interessa se ele é evangélico”
Marina
Silva, ex-senadora e ex-ministra do meio
ambiente.
“Ele
se antagonizou com o Brasil porque expressou pelo Twitter e, depois,
num culto, opiniões sobre a questão dos negros. Disse que são
descendentes da parte amaldiçoada dos filhos de Noé, os filhos de
Cam. É interessante observar ele não criou nada ao fazer tais
afirmações. Essa teologia é muito antiga, muito anterior a ele,
persistindo até hoje em alguns poucos segmentos fundamentalistas.
Ela tem origem entre os colonialistas, que dividiam o mundo em três
áreas – o ocidente, o oriente e o sul. Nesta última teriam ficado
os possíveis descendentes do personagem bíblico, os amaldiçoados.”
Ricardo Gondim, pastor da
igreja Assembleias de Deus Betesda e escritor.
Link:
http://blogs.estadao.com.br/roldao-arruda/pregacao-de-feliciano-e-racista-afirma-pastor-e-teologo/
Porém,
não apenas Marco Feliciano tem feito uso duvidoso das redes sociais.
O deputado Jean Wyllys tem postado comentários tão preconceituosos
quanto, porém direcionados a cristãos:
“Confesso
que o mais difícil, nos tweets dos fundamentalistas, é ter de ler a
redação típica de um analfabeto funcional… É dose!”
“Eu
mereço essa gente que dissemina ódio aos homossexuais e às
religiões de matriz africana e que não quer oposição a essa
estupidez?”
Chama
a atenção que os tweets de Feliciano ganharam a grande imprensa,
enquanto os de Wyllys se restringiram à imprensa online evangélica.
Jornalismo tendencioso dos grande órgãos de imprensa?
Uma
outra questão não dita mas presente subliminarmente é a crença de
que a Comissão de Direitos Humanos não é um espaço para diálogo
e discussão plural mas sim, uma plataforma para imposição ao
restante do Congresso de pensamento único e totalitário, sem espaço
para outras visões a respeito do mesmo problema.
Resumindo:
na opinião deste segmento, somente pode participar e presidir a
comissão quem pensa rigorosamente igual a eles. E este totalitarismo
ficou patente na forma como protestaram contra a presidência de
Feliciano, literalmente impedindo as seções.
O
jornalista Alexandre Garcia toca o dedo nesta ferida em seu programa
de rádio:
“Se
ele é acusado de opinião, então é de supor que aqui no Brasil
exista crime de opinião, e não existe. Ele não pode ser acusado de
opinião, porque a opinião é livre e protegida pela Constituição.”
Já
o ministro do STF Joaquim Barbosa expressou sua opinião:
"O
deputado Marco Feliciano foi eleito pelos seus pares para assumir um
determinado cargo dentro do Congresso Nacional, na Câmara. Os
deputados assim o fizeram porque está prevista regimentalmente essa
possibilidade. A sociedade tem também o direito de se exprimir, como
vem se exprimindo, contrariamente à presença dele neste cargo. Isso
é democracia".
Resumindo:
os grupos ditos progressistas querem a renúncia de Feliciano não
pelo o que ele disse no Twitter, mas por suas ideias conservadoras.
Eles sabem que com ele na presidência, muitas de suas proposições
podem ir para a fundo da gaveta da Comissão e temem a ideia de
Feliciano de por a questão do casamento gay e da descriminalização
do aborto em votação plebiscitária pois, no fundo, sabem que a
sociedade brasileira é progressista da boca pra fora e conservadora
no seu íntimo. Na verdade, Marco Feliciano já começou a fazer
isso. No link abaixo podem ser conferidas no site da Câmara dos
Deputados as proposições feitas por Feliciano, muitas delas feitas
meses antes de assumir a presidência da CDHM:
Portanto,
o que está em jogo é disputa por poder dentro de uma comissão onde
um grupo perdeu a hegemonia e não poderá mais impor seu ponto de
vista acerca dos diretos humanos sobre o outro, muito menos sobre o
Congresso. Claro, o risco é que o novo grupo hegemônico faça a
mesma coisa.
O
resultado disto é o acirramento de ânimos de ambos os lados, com um
lado querendo a renúncia de seu deputado desafeto por “crime de
opinião”. Jean Wyllys e Marco Felicianmo são pintados ao mesmo
tempo como monstros e mártires.
Mas
quem são Marco Feliciano e Jean Wyllys e como se tornaram deputados
federais, membros do Congresso Brasileiro?
Marco
Feliciano começou sua meteórica carreira como um entre tantos
pregadores pentecostais. Membro da igreja Assembleia de Deus, graças
ao seu estilo eloquente e emocional, ganhou grande e rápida
popularidade e era convidado a pregar em eventos religiosos de todo o
país. Em pouco tempo já havia sido consagrado ao pastorado em uma
igreja local.
Ao
alcançar o sucesso dentro de seu meio, Feliciano começou a mudar o
visual, buscando uma aparência mais moderna e menos convencional que
caracterizam os pregadores pentecostais, geralmente bastante sóbrios.
Logo
Feliciano fundou sua própria igreja – Assembleia de Deus Catedral
do Avivamento, lançou Cd's como cantor e criou seu próprio
currículo de revistas de Escola Dominical – investimentos estes
que aparentemente não obtiveram grande aceitação no mercado.
Mas
estes fatos, especialmente sua mudança visual, geraram rejeições
em seu público e os convites para pregações começaram a rarear.
Nesta época, ele chegou a gravar um vídeo pedindo para ser
convidado a pregar.
Após
isto, Feliciano fez o que muitas celebridades fazem quando chegam ao
ostracismo: se candidatam a um cargo eletivo na esperança de que
seus fãs os ajudem a serem eleitos.
Marco
Feliciano foi bem sucedido em sua empreitada. Foi eleito com
expressivos 211.855 votos em São Paulo.
Jean
Wyllys era professor universitário na Bahia e alcançou a fama
instantânea quando participou – e ganhou com expressiva votação
(na casa dos milhões) – uma das edições do discutível reality
show Big Brother Brasil no melhor estilo Davi contra Golias.
Naquela edição, o pequeno e franzino baiano era sistematicamente
enviado ao paredão pelo grupo dos rapazes e moças sarados e
descerebrados que caracterizam o programa. E a cada vez ele voltava
mais forte derrotando um a um, pois o público vê o o reality Show
como uma novela e nelas, sempre torce pelo mais fraco e mais
perseguido.
O
tempo passou, Jean lançou um livro de memórias, e depois caiu no
ostracismo. Foi candidato a deputado federal pelo PSOL mas não
conseguiu o número mínimo de votos
para
se eleger, apenas 13.018 votos.
Mas
conseguiu a vaga no Congresso Nacional graças ao recurso do voto na
legenda. Graças a lei eleitoral, o PSOL pode transferir votos
“excedentes” da legenda os candidatos de seu partido – entre
eles Jean Wyllys – e assim, “furar a fila” colocando-os à
frente de outros candidatos mais votados do que eles.
De
certa forma a história se repete. Do alto de seus votos e de seu
visual metrossexual, Feliciano entrou pela porta da frente do
Congresso enquanto Wyllys, metaforicamente, entrou pela porta dos
fundos, empurrado pelos votos de sua legenda. Mas a batalha midiática
está sendo ganha por Jean Wyllys por larga vantagem: mais
equilibrado em seus comentários ena defesa de seu ideário, ele como
fruto da mídia de massa sempre contou com seu apoio, mesmo antes da
polêmica da CDHM.
Já Marco Feliciano somente ganha os holofotes quando escreve ou fala
alguma coisa polêmica que o coloca em dificuldades ainda maiores. E
ele é pródigo em fazer isso.
Por
trás de toda esta polêmica, Marco Feliciano e Jean Wyllys, duas
celebridades midiáticas que chegaram ao Planalto sem nenhum passado
de atividade política, são exemplos de como nosso sistema eleitoral
e a própria consciência política da população estão em níveis
perigosamente baixos. Embora em campos ideológicos opostos, eles são
mais parecidos do que eles próprios e seus eleitorados gostariam de
admitir.
Marco
Feliciano acerta quando afirma que o fato de ser um pastor não o
desqualifica para a CDHM.
Ainda mais quando lembra a grande contribuição para a causa dos
Direitos Humanos de outros pastores, como o bispo anglicano Desmond
Tutu da África do Sul e o pastor batista americano Martin Luther
King.
Infelizmente,
Marco Feliciano está à léguas de distância da envergadura moral e
intelectual destes dois gigantes da fé.
A
jornalista Míriam Leitão percebeu isto:
“As
novas denominações religiosas evangélicas, pentecostais ou não,
têm níveis de formação diferenciados com mais ou menos teoria.
Alguns bem improvisados. Mas os que têm aparecido com mais destaque
na imprensa são os grupos que cometem erros como os da exploração
da fé dos mais pobres, ou os que fazem sustentações doutrinárias
controversas.
As
religiões precisam se modernizar de forma geral. Mas as denominações
protestantes tradicionais, e os evangélicos que não comungam com as
ideias do deputado Feliciano, têm dado pouca ênfase à necessária
separação entre joio e trigo.”
Se
a comunidade evangélica quiser ser ouvida e respeitada, precisa dar
voz a homens e mulheres que tenham um real compromisso com a causa do
Mestre, que não busquem holofotes para si e que tenham uma vida de
tal integridade que sustente as suas afirmações e convicções. E
para isto, a representação política é apenas uma das opções.
Tanto Desmond Tutu quanto Martin Luther King nunca ocuparam cargos
públicos, mas influenciaram e mudaram suas gerações.
A
comunidade evangélica, por tudo o que fez e tem feito pelo ser
humano, pode e deve estar presente na Comissão de Direitos Humanos e
Minorias. Ela tem muito sim, a contribuir com a sua experiência em
apoio a dependentes químicos, prostitutas, moradores de rua e
comunidades rurais. Mas ela precisa ter representantes à sua altura.
Ainda não tem.
"Vós
sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de
salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser
pisado pelos homens (Mateus 5.13)."
Minha forma de pensar é a seguinte: os Homossexuais devem sim, ser protegidos contra agressões e preconceito, mas não se deve aprovar uma lei que tira o direito de expressão de outro cidadão. Seu direito termina quando começa o do próximo...
ResponderExcluirSe formos seguir este expediente teremos que criar uma PLC para Nordestinos, Evangélicos, Ateus, Negros, Índios, e por ai vai, quando na Constituição já existe essa defesa ao Direito. Parece “fórum privilegiado” para uma determinada minoria, quando o que temos de fazer, na verdade, é cobrar o cumprimento da mesma para TODOS os brasileiros, sem distinção alguma! E sem, no entanto, massacrar a opinião alheia e a liberdade de expressão; Criar uma lei assim seria uma ditadura de opinião, e sou contra a ditadura de opiniões. SE a lei de união CIVIL for aprovada, devemos aceitar a decisão democraticamente, mas fazer valer TAMBÉM outras reivindicações talvez mais sérias (como educação básica de qualidade, fim das mordomias dos políticos, mais verbas para a saúde, etc.) – Também sou contra a legalização do aborto e das drogas, mas repito, SE for voto vencido, devemos acatar, pois vivemos numa democracia e NINGUÉM está acima da lei (e, se mesmo assim, certos grupos e entidades não aceitarem, que se façam protestos pacíficos para combatê-los ou a prática da alardeada “desobediência civil”)
Exemplos da Lei:
Artigo 4º: Praticar o empregador, ou seu preposto, atos de dispensa direta ou indireta.
Então TODA dispensa de homossexual será, claro, tratada como preconceito e passível de processo/prisão!
Artigo 8º-B: Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos ou cidadãs.
Num pátio de Igreja, por exemplo, se um homem e uma mulher estiverem se beijando, serão sim, convidados a pararem ou se retirarem! É questão de moral da entidade, e deve ser respeitado por todos!
Artigo 16º, parágrafo 5º: O disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica.
Aí entraria inclusive piadas de gays, negros, judeus, não? Isto é uma vergonha! Gostaria de ver o movimento mandar prender o Jô Soares por fazer uma piada de gays no seu programa... (E se chamar de “gay”, “bichinha”, pode ser processado também?) Afinal, estamos numa democracia ou somos obrigados a concordar com a massa só porque está na moda? Quanta hipocrisia!
Para tentar um acordo com as entidades religiosas que se opõem ao projeto, a senadora Marta Suplicy, relatora da PLC 122 no Senado, modificou o texto para proteger cultos religiosos da criminalização. A modificação feita diz que a nova legislação "não se aplica à manifestação pacífica de pensamento decorrente da fé e da moral fundada na liberdade de consciência, de crença e de religião." No entanto, o novo texto foi reprovado por defensores dos direitos LGBT, que consideraram que a alteração descaracteriza o objetivo original da lei (...)
Então, quem são os intransigentes de fato?
E pra finalizar: Infeliciano NUNCA me representará!!! (como diria Robert DeNiro - "vaidade, meu pecado favorito")