segunda-feira, 9 de maio de 2011

Museu antropológico

Não há dúvida que o impedimento de que populações indígenas tenham acesso a troca de experiências com pessoas oriundas de outras culturas, outras cosmovisões e outras crenças é não apenas errada como contrária ao curso natural da História.

Toda e qualquer civilização ao longo da história humana manteve contato com outras sociedades e por meio dele houve troca de experiências, aprendizado mútuo, mudança, e nada disso é ruim.

O nosso sistema numérico é o arábico, nosso alfabeto é latino. Hoje europeus comem pipoca e batata frita porque foram apresentados pelos índios do continente americano ao milho e a batata, inexistentes no velho mundo.

Claro que estes encontros de civilizações nem sempre são pacíficos. Houveram guerras, conquistas e doenças transmitidas, mas o isolamento de populações inteiras não é a solução.

Outro detalhe muito importante é no tocante a fé. Um índio não é uma criança nem tampouco apresenta problemas mentais. É um ser humano adulto, racional e em plenas condições de decidir por si só no que ele quer ou não acreditar. Resumindo: o homem indígena tem o direito da liberdade de pensamento, inclusive de deixar de crer em um religião que não mais explica plenamente o mundo à sua volta e tem todo o direito de adotar uma outra que melhor satisfaça a sua alma. Isto é assunto de foro íntimo e não cabe a FUNAI ou ao governo federal cercear este direito inalienável dele como indivíduo que é.

Mas e a cultura dele? Poderão perguntar alguns. Isto não irá destruir seu folclore, suas tradições? Não. Se assim fosse, os gregos até hoje teriam de adorar a Zeus e a Poseidon e os egípcios a Osíris e Órus. As populações destes países preservam suas tradições e culturas (e ainda lucram bastante com elas por meio do turismo) mas não estão presas a crenças religiosas deste passado. Para um antropólogo, toda religião é folclore, mas para quem nela crê é muito mais do que isto, e o indígena tem o direito de crer no que quiser, assim como o egípcio, o grego ou cidadão que mora em São Paulo ou Rio de Janeiro. Não podemos impor a seres humanos que vivam em um museu antropológico sem que tenham o direito de escolha. Não é justo.

É falacioso o argumento de que o trabalho missionário vai destruir a cultura indígena. Primeiro, como já colocado acima, a crença anterior se transformará em folclore e continuará presente como dado cultural da tribo. Além disto, é preconceituoso acreditar que o índios se vejam como inferiores e por isso a crença do "homem branco" será automaticamente adotada por toda a tribo. Não é o que ocorre. O missionário prega o evangelho para todos. Alguns crêem, outros não, como em qualquer sociedade. Além disto tem sido inestimável o trabalho missionário para preservação da língua indígena por meio da tradução de Bíblias para a língua da tribo. Quantas línguas não poderiam ter desaparecido pela falta do registro impresso de sua oralidade?

Também é falacioso o argumento de que o assassinato de crianças deva ser tolerado por ser parte da cultura da tribo. Os relatos que tem chegado à grande imprensa mostram pais e irmãos da crianças vitimizadas sofrendo muito pela lei da tribo e lutando o quanto podem pela vida de seus filhos. Ela é acatada com lei, mas não é ponto pacífico entre eles. Além disto, isto gera outras questões embaraçosas. Se o governo brasileiro por meio da FUNAI concordar que crianças podem ser assassinadas porque é algo inerente a cultura da tribo, forçosamente terá de concordar com a igualmente horrenda prática da emasculação feminina perpetrada por tribos no norte da África, a qual, literalmente, extirpa o clitóris das meninas da tribo. Faz parte da tradição daquelas tribos, mas a própria ONU faz campanha contra isto. E aí? como o governo irá resolver esta contradição?

Enquanto o trabalho missionário dá o devido respeito às comunidades indígenas tratando-os como eles realmente são: adultos, como capacidade intelectual suficientes para tomarem suas próprias decisões naquilo que querem crer e na forma como suas crenças vão determinar suas atitudes, a FUNAI continua a tratá-los como serem culturalmente inferiores e que por isso devem ser mantidos segregados para não serem absorvidos pela cultura dita "branca".

Quem é o verdadeiro preconceituoso nesta história?

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