sábado, 9 de junho de 2012

Discussão ou imposição?


"Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto ."


Li recentemente no site de notícias Terra uma interessante entrevista da deputada federal Luíza Erundina sobre suas dificuldades internas e externas para concorrer e ganhar as eleições para prefeitura de São Paulo. No final da entrevista entretanto, falando de sua linha de atuação como deputada ela afirma:

O Brasil é uma nação extremamente atrasada nessa discussão porque deixa que a religião influencie nas políticas de um Estado laico. Entendo o direito dos religiosos de não permitir práticas como o aborto aos seus membros, mas estender isso a toda população é um erro grave. (...) Se a mulher tivesse um papel maior nas esferas de poder, tenho certeza de que não seria tão difícil discutir temas como esse, que envolvem direitos individuais, civis, e até direitos humanos”

Neste comentário ela repete um ponto de vista que tem se tornado clichê entre os defensores do aborto e da legalização do consumo de drogas: a discussão.

Alunos da USP que organizaram a Semana de Barba, Bigode e Baseado disseram nesta sexta-feira que não imaginavam a repercussão do evento, marcado para ocorrer entre segunda e sexta-feira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Cidade Universitária. “O evento incita muito mais a discussão do que o uso de qualquer droga”, diz Caetano Patta, de 23 anos, um dos fundadores da Frente Uspiana de Mobilização Antiproibicionista (Fuma), organizadora da semana.”
link: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/04/16/universidade-e-lugar-para-discutir-drogas-sem-preconceito-diz-organizador-de-evento-na-usp/

Mas se analisarmos o contexto destas e de diversas outras frases semelhantes, eles não querem discutir a questão. Querem a imposição da aceitação.

A questão do aborto/das drogas precisa ser discutido sem hipocrisia. Esta frase é muito utilizada por aqueles que querem propor medidas polêmicas para a opinião pública. Mas ela carrega diversas premissas embutidas como se fossem verdades universalmente aceitas. Vamos a elas:

Uma questão que precisa ser discutida
Mas já não está? Há fóruns, congressos, seminários e comissões discutindo os diversos aspectos médicos, sociais, psicológicos e até mesmo econômicos tanto da questão do consumo de drogas quanto da prática do aborto. E estas discussões ocorrem em universidades, conferências, igrejas e até mesmo no Congresso Nacional. Então porque os formadores de opinião dizem que é preciso discutir ainda mais estas questões?

Porque eles não querem discutir a questão em si. Para eles a as questões estão fechadas e eles não vão mudar de opinião. Eles são favoráveis a liberação do consumo de drogas e da liberação do aborto em qualquer circunstância. O problema é que a maioria da população brasileira é contra, então o que eles querem não é discutir nada mas sim impor a adoção destas práticas no Brasil com o mínimo de rejeição possível. Eles não querem realmente discutir a questão, não querem um debate, um confronto de ideias. O que querem é a divulgação exclusiva de seu ponto de vista como o único certo, sensato e científico para a população aceitar mais facilmente.

Hipocrisia
Nestes discursos, a palavra “hipocrisia” é muito utilizada. O que ela significa? Para estas pessoas, a luta contra as drogas e contra o aborto ilegal é uma luta perdida. Mais uma vez há um viés autoritário nesta afirmação. Tais pessoas partem do pressuposto de que a opinião delas não apenas é verdadeira como também é compartilhada por todos. E se todos concordam que a luta está perdida, mas mesmo assim são contra, então estão sendo hipócritas por defenderem algo que sabem não ser viável.

O que se percebe nestes discursos é uma mensagem subliminar, não dita mas sempre presente, de que seu ponto de vista seria a verdade e, mais cedo ou mais tarde, será adotado. Portanto, a discussão pretendida não é se sobre ser ou não a favor da liberação do aborto ou das drogas, mas sim de como fazer esta liberação, pois ela seria inevitável.

Sempre que ouvir alguém falando algo do tipo “temos de deixar a hipocrisia de lado e começar a discutir a questão...” você nem precisa saber o qual é a questão: já sabe que o autor da frase não quer discutir nada, quer simplesmente impor goela abaixo a sua vontade, seja ela qual for.

Existe uma famosa história que ilustra bem este tipo de discurso: Quando Henry Ford iniciou sua fábrica de automóveis, ele elaborou um complexo sistema de produção em série para obter maior rapidez de produção de seus carros reduzindo assim seus custos e, consequentemente, o preço final, tornando seus automóveis mais baratos do que de seus concorrentes. Mas a produção em série exigia o máximo possível de padronização e por isso, o modelo Ford T somente era produzido em uma única cor: preto. Quando perguntaram a ele se seus clientes não poderiam escolher comprar um Ford T de outra cor, a sua célebre resposta foi: “Claro que sim! Você pode comprar um Ford T de qualquer cor, desde que seja preto”.

Os defensores da legalização pensam da mesma maneira que Henry Ford: você pode discutir a questão desde que concorde plenamente com eles.

Mas ai de você se quiser discutir de verdade alguma questão. Se você mostrar racionalmente porque não concorda, e pior, provar por A + B que está certo, eles já tem um rótulo prontinho para colar em você: hipócrita.

É uma jogada de gênio: afirmar-se que quer discutir algo quando, na verdade, quer estabelecer um cronograma de implantação de sua ideia, como se já fosse consenso. E ainda chama de hipócrita quem pensa diferente, matando qualquer possibilidade real de se discutir a questão.

Isto sim, é o que eu chamo de hipocrisia.

2 comentários:

  1. Ao passar pela net encontrei o seu blog, estive a ler algumas coisas e posso dizer que é um blog fantástico,
    com um bom conteúdo, dou-lhe os meus parabéns.
    Se desejar fazer parte de meus amigos virtuais esteja à vontade, decerto que irei retribuir seguindo também o seu blog.
    Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.

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    1. Prezado António,

      Muito obrigado por suas palavras. Sem dúvida visitarei seu blog e creio que este será o inpicio de muitas outras visitas.

      Em Cristo,

      Robson Rocha

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