quinta-feira, 1 de abril de 2021

A Igreja na encruzilhada da História



 “Quando, porém, disseram: "Dá-nos um rei para que nos lidere", isto desagradou a Samuel; então ele orou ao Senhor.

E o Senhor lhe respondeu: "Atenda a tudo o que o povo está lhe pedindo; não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como rei.” 1 Samuel 8:6,7

Desde meus tempos de garoto, aprendi nas carteiras da Escola Dominical que a decadência espiritual da Igreja começou quando o imperador Constantino legalizou a fé cristã.
Embora essa legalização do cristianismo em 313 d.C. tenha sido uma medida correta e justa pois encerrou a cruel perseguição e morte de cristãos, a partir dela começou uma simbiose cada vez mais intensa e indevida entre o poder estatal e a Igreja.

Ao longo da história, este triste fenômeno tem se repetido. Onde entra a busca pelo poder político, vai embora a busca pelo poder do Espírito. E uma igreja sem o Espírito é uma igreja sem vida.
Jesus disse que não podemos servir a dois senhores pois haveríamos de amar um e odiar o outro. Ele se referia a servir a Deus ou as riquezas (Mt 6:24). Mas esse princípio também se aplica a busca pelo poder (e a qualquer outra coisa que se deseje mais do que a Deus) pois como Jesus também disse, onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração (Mt 6:21). E, para muitos, o poder político ou uma crença ideológica é um tesouro ainda mais sedutor do que as riquezas.

Alguns acreditam que estar próximo dos detentores do poder ou até mesmo fazer parte do poder temporal pode ajudar a Igreja a se defender de arbítrios e ser, ao mesmo tempo, uma influência positiva pela sociedade. Outros até mesmo acreditam que podem replicar a monarquia judaica nos dias de hoje e que se tivermos um presidente que compartilha das mesmas pautas, o país se transformará em uma ilha de prosperidade.

Mas não foi isso que Jesus disse. Ao ser confrontado por Pilatos, Cristo deixou bem claro que seu reino não é desse mundo (Jo.18.36) e que nesse mundo teríamos aflições (Jo 16.33).
Pessoas cegas por ideologias correm o risco de verem no líder político o seu protetor e salvador, de depositarem no homem falível a sua fé e de o adotar como referência comportamental, como um paradigma a ser seguido. Se tais pessoas são cristãs, corre-se o risco delas não mais se assemelharem a Cristo mas a esse outro que assumiu o seu lugar em seus corações. E o mundo percebe essa diferença.

Uma coisa é orar pelas autoridades constituídas, sejam elas quais forem. É certo e é bíblico. Outra coisa é aderir a um projeto político de poder, seja ele qual for.

A algum tempo atrás vi posts associando Barrabás a um determinado político porque Barrabás seria um bandido.

Mas Barrabás foi mais do que um simples bandido. O texto bíblico diz que ele era um homem acusado de sedição (Lc 23.19), alguém que queria obter o poder a qualquer custo, mesmo com derramamento de sangue.

Barrabás era a antítese de Jesus porque ele representava no imaginário judaico de sua época o Messias guerreiro, aquele que libertaria por meio da espada seu povo do jugo romano, enquanto Jesus, o verdadeiro Messias, foi rejeitado pois prometia “apenas” salvação e a libertação do jugo do pecado.

A história é uma caminhada e nós, a Igreja brasileira, tal qual como outras no passado, estamos em uma encruzilhada, tendo que escolher se queremos ser Sardes ou Filadélfia, se proclamaremos o Evangelho do Reino ou um projeto político-ideológico. Porque não dá para servirmos a dois senhores.

A Páscoa está chegando e, com ela, ecoa mais uma vez as palavras de Pilatos desafiando a multidão a fazer uma escolha, se quer o meigo Nazareno ou o agitador da espada. É hora de relembramos mais uma vez quem somos, qual a mensagem a ser pregada e o alto preço que foi pago na cruz do Calvário para que hoje pudéssemos ser chamados de cristãos.

Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário